Mesmo entendendo que a Igreja
Cristã é acima de tudo um organismo vivo (Corpo de Cristo, Noiva do Cordeiro,
Igreja Invisível, etc...), e que ao mesmo tempo também se constitui em uma
organização (forma do organismo-igreja se comunicar e se tornar visível ao
mundo), penso que mesmo em sua forma visível (igreja-organização) e mais fácil
de entender, muita confusão se faz, deturpando os objetivos e causas de sua necessária
organização.
A falta de compreensão quanto a
como e porque a Igreja deve ser organizada, faz com que se organize e
administre-se levando em conta parâmetros, princípios e fundamentos que não são
os ideais para sua vida e crescimento segundo os reais propósitos originários
de sua existência e missão, que são essencial e prioritariamente espirituais.
Para expor com maior clareza o
assunto precisamos primeiro definir cada uma das respostas à questão.
Primeiro então definamos o que
é uma organização espiritual.
Conforme o Dicionário
Contemporâneo da Língua Portuguesa, uma organização define-se “por uma reunião de pessoas com o mesmo
objetivo e interesses”, ou seja, seria similar a uma associação com ideais
comuns. Logo, complementando do ponto de vista cristão, entendemos a partir
dessa premissa que uma organização espiritual define-se por uma reunião de
pessoas com interesses e objetivos comuns tendo como prioridade e fundamento os
princípios e valores espirituais revelados nas Escrituras Sagradas.
Sendo assim, a Igreja Cristã é
uma reunião de pessoas salvas por Cristo, que mediante Suas orientações,
princípios e valores revelados na Bíblia se organizam em grupos ou denominações
para adorá-lo, cultuá-lo e obedecê-lo em tudo que lhes foi comunicado.
Há muitas outras definições
para Igreja, mas creio que esta alcança o objetivo de clarear o assunto em
questão.
Definamos agora o que é um
empreendimento empresarial.
O mesmo dicionário já
mencionado define empreendimento como uma obra, uma realização, uma empresa ou
um negócio. Já o termo empresarial é derivado do termo empresa que é definido
por “uma organização que produz, vende
e/ou oferece bens e serviços”.
Perceba que as definições
vistas em um dicionário são muito semelhantes quando se considera apenas
etimologicamente os termos e expressões, porém o sentido mais amplo as faz
distanciar-se uma da outra direcionando para objetivos e finalidades totalmente
diferentes.
A primeira definição direciona
para o espiritual. Têm sua origem, causas, métodos e objetivos pautados e
delineados pela Bíblia. O objetivo maior é revelar Jesus Cristo ao Homem e após
isso, fazê-lo crescer em conhecimento e graça, prosseguindo para sua
glorificação e vida eterna.
Já a segunda direciona para
obter vantagens e lucros. É direcionada a filosofia comercial e pragmática de
vida. Sua origem e causas nascem muitas vezes na ganância e avareza humanas,
seus métodos são humanos e centrados no movimento do mercado, no marketing e na
propaganda. Seu maior objetivo é obter lucro, sejam financeiros, notoriedade ou
vantagens.
Ressalto que nada tenho contra
a administração empresarial ou ao produzir e comercializar produtos de uma
forma geral. Não seria alienado a ponto de desprezar a revolução industrial em
suas várias atividades e muito menos negligenciar as melhorias e avanços
proporcionados por ela na qualidade de vida humana atual. A minha argumentação
não tem o objetivo de ignorar isso, mas se restringe ao contexto da vida cristã
e da Igreja Cristã. Penso que todos os avanços e progressos têm seu lugar na
vida humana, o que não pode e não deve acontecer é mesclar ou misturar
conceitos e princípios sem antes discernir se estes possuem identificação com
os objetivos de cada uma das organizações ou empreendimentos mencionados no
título desta postagem.
Como diz um ditado popular: “cada macaco no seu galho”.
Por que digo isso? Porque a
administração empresarial tem se instalado nas igrejas evangélicas a tal ponto
que a própria Palavra de Deus em muitos casos acaba sendo algo secundário. O
que importa são os conceitos de marketing e propaganda. Como se a Igreja
comercializasse um produto e os crentes fossem vendedores ávidos por alcançar
consumidores.
Obreiros são treinados não para
pregar a Palavra ou para abençoar em Cristo as pessoas. São treinados como se
fossem integrantes de uma equipe de vendas, tendo seu pastor como o diretor
comercial e a igreja como uma empresa em que foram contratados para exercer tal
função. Aprendem técnicas para convencer, fórmulas para agradar aos outros com
a intenção de oferecer o produto “Jesus”.
As pregações são palestras
motivacionais idênticas as que são realizadas em empresas como a clara intenção
de motivar seus funcionários e conseqüentemente render mais em seus trabalhos e
produzir muito mais lucro para suas empresas.
Os crentes são agradados para
não deixar de consumir. A todo o momento, o produto principal (o carro-chefe) é
enfeitado e demonstrado com mil e uma utilidades. O produto proporciona cura
para todas as enfermidades. Proporciona riquezas, sucesso, prosperidade.
Também, se consumido corretamente traz toda sorte de bênçãos materiais. Faz
você conquistar posições elevadas e todos verão como você ficou feliz. Conforme
a necessidade do consumidor o produto é oferecido de forma que seja consumido.
Estratégias de marketing são
aplicadas. A propaganda é imensa (rádio, TV, internet...). Afinal de contas, a
propaganda é a alma do negócio.
Juntamente com esta filosofia
comercial, vem também a política do levar vantagem em tudo. Não se consideram
as orientações bíblicas para as atitudes e métodos. O importante é alcançar o
objetivo. “Os fins justificam os meios”.
Os novos candidatos ao
pastorado são ensinados nestas igrejas-empresas desde muito cedo que terão que
se sujeitar aos critérios da “empresa”. Terão que apoiar e participar de uma
política mundana de acepção de pessoas, de obter vantagens eclesiásticas ou de
defender seus pares não importa o que tenham feito. Nisso deverão se
comprometer, se é que desejam serem realmente “pastores”. São submetidos a
verdadeiros interrogatórios e constrangimentos chamados de exames, concílios,
provas, entrevistas ou outra nomenclatura usada por cada denominação.
Momentos em que os já
consagrados ou ordenados (os diretores comerciais e os gerentes de vendas) vão
se “divertir” à custa do nervosismo e medo do candidato. Momentos em que
aqueles que não “gostavam” daquele candidato se aproveitam para vingativamente
deixá-lo em situações complicadas e constrangedoras. Lamentavelmente já
presenciei verdadeiros massacres eclesiásticos de candidatos e seminaristas,
que em algumas vezes eram em conhecimento e exemplo de vida cristã superior aos
seus examinadores.
A vida pessoal é devassada e
muitas vezes revelada a todos. São humilhados e nada podem falar. É a política
da empresa. Senão acabam “demitidos” ou “deixados na geladeira” ou “fritados”,
que são expressões mundanas usadas por alguns pseudo-pastores com relação a
seminaristas e candidatos ao episcopado.
Ressalvo que ainda existem
muitos bons pastores e exames ministeriais sérios e responsáveis, porém isso
não exclui os maus e irresponsáveis. Não estou aqui generalizando, apenas
constato um fato.
Nessas igrejas-empresa, as
demais pessoas da congregação são ensinadas a vir buscar as bênçãos e nunca a
ser bênçãos. Tornam-se simples consumidores e nunca ficam satisfeitos. Querem
sempre mais.
A igreja tornou-se uma empresa
e ás vezes até uma empresa muti-nacional. Seus líderes fazem parte da equipe de
vendas, marketing e publicidade. Os crentes são meros consumidores de um
produto que não os satisfaz porque na verdade não existe. É apenas uma ilusão
pregada como se fosse o Evangelho, mas de forma alguma o é.
A verdadeira Igreja de Cristo
não se confunde com o mundo. Não se conforma com ele.
Ela tem os seus próprios
parâmetros, referenciais e paradigmas. Todas as suas atitudes, ações, ensinos e
comunicação são fundamentados e supervisionados pela santa Palavra de Deus. A
Bíblia é o seu manual de regra e prática. Não os conceitos humanos de administração
empresarial. Não a filosofia do obter vantagens e lucros. Não os conceitos da
psicologia motivacional ou da Propaganda e Marketing.
Todas essas linhas de
pensamento ou de ação têm o seu lugar e propósito e devem primeiro ser filtradas
e peneiradas pela Palavra e quando alinhadas e em coerência com essa, aí então
ser aplicadas. Nunca o contrário, jamais o inverso.
Os líderes na Igreja devem
conhecer o manual. Conhecer a Bíblia e usá-la em seu trabalho. Isso é
prioridade. Isso é fundamental.
Igreja Cristã não é empresa.
Pastor não é chefe, patrão, funcionário ou empregado. Crentes não são
vendedores e muito menos meros consumidores superficiais. Jesus não é um
produto.
Igreja Cristã é a Embaixadora
de Cristo nesta Terra. Sua missão é propagar, pregar e comunicar o Evangelho de
Cristo (as Boas Novas de Salvação) a toda criatura e deve fazer isso juntamente
com seu culto a Deus. Deve ser uma comunidade fraternal, solidária, educadora,
trabalhadora, servil, edificante e edificadora. Deve ser conhecida pelo amor a
Deus e as pessoas. Deve ser contagiada e movida pelo Espírito e Nele viver.
Isso é Igreja.
Deixemos os conceitos
empresariais para as empresas.
Valorizemos a Palavra de Deus.
Não precisamos de mais nada, de nenhum acréscimo para cumprirmos nossa missão.
Deus nos garante isso.
“Atendei por vós e por todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo os
constituiu bispos, para pastoreardes a Igreja de Deus, a qual Ele comprou com
seu próprio sangue.” Atos 20:28
(...) para que pela Igreja a multiforme sabedoria de Deus se torne
conhecida, agora, dos principados e potestades nos lugares celestiais, segundo
o eterno propósito que estabeleceu em Cristo Jesus, nosso Senhor, pelo qual
temos ousadia e acesso com confiança, mediante a fé Nele.” Efésios 3: 10-12.
“(...) para que, se eu tardar, fique ciente de como se deve proceder na
casa de Deus, que é a Igreja do Deus vivo, coluna e baluarte da verdade.” 1
Timóteo 3:15
“Toda a Escritura é divinamente inspirada por Deus e útil para o
ensino, para a repreensão, para a correção, para a edificação na justiça, a fim
de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda a boa
obra.” 2 Timóteo 3: 16,17.
Pr. Prof. Magdiel G Anselmo.
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