segunda-feira, 30 de julho de 2018

Amor ou obsessão denominacional?


Há uma linha tênue entre o amor e a obsessão pela denominação a que somos membros. Alguns dentre nós parecem amar mais a denominação do que o próprio Deus. Parecem amar mais a forma da organização do que a própria Bíblia. Defendem com muito mais vigor a "sua igreja" do que propriamente as doutrinas bíblicas fundamentais. 
Esse "amor" desmedido pela denominação da qual fazem parte traz um orgulho, que sabemos, não é saudável. Temos que entender que a denominação não é infalível e muito menos perfeita. Seus métodos e sua forma de se organizar pode não ser a melhor ou a mais eficaz hoje como eram a tempos. Não temos que "fechar os olhos" para seus erros administrativos e metodológicos.

Em toda organização existem momentos de manutenção e acerto de direção em sua trajetória. 

Temos sim que levar em conta que o aperfeiçoamento dos processos deve ocorrer, e em alguns casos, a mudança ou até o abandono de formas antigas pode ser inevitável e necessária para que haja alcance, abrangência e acima de tudo, edificação. 

Isso não significa negligenciar ou desrespeitar a tradição, mas sim, aprender com ela e quando necessário fazer dela o "trampolim" para novos procedimentos e novos dias. 

O amor denominacional é compreensivo, mas tudo tem limite, não pode se tornar em obsessão cega. 

Quando vivemos grande parte de nossa vida envolvidos com e em uma organização é comum adquirirmos por ela forte zelo e amor. Isso não é ruim, desde que direcionado corretamente.  Todo desequilíbrio traz problemas, inclusive nesse caso. 

O amor pela "nossa igreja" não pode suplantar ou sobrepujar a reflexão e o discernimento do que é correto e do que é razoável. 

O que é inquestionável e imutável devem ser sempre preservados como são o caso das Escrituras. As metodologias, formas e organizações que são criadas pelo homem devem sempre passar pelo crivo bíblico e, também pela prova do tempo e da sua eficiência em cada momento da história. Não é pecado aperfeiçoar ou mudar, desde que não incorramos em desrespeito ou infrinjamos os ensinamentos bíblicos já nos revelados.

Mas, lamentavelmente o que vemos muitas vezes é que somente a possibilidade em mudar traz um perplexidade tamanha que parece que estamos a negar a nossa fé em Cristo. Modificar uma estrutura de muitos anos parece ser mais difícil que a transformação de vidas em Cristo. 

Inevitavelmente esse conceito conduz a arrogância e orgulho denominacionais. "A minha igreja é a melhor", "o nosso jeito é o melhor", afirmam soberbamente sem discernir se realmente isso é uma verdade atualmente, como se a forma, o jeito, o método, etc... estivesse ao mesmo nível ou até superior a própria Palavra de Deus, essa sim uma verdade em qualquer época ou contexto. Os limites para se adentrar na caracterização de uma seita quase são ultrapassados. Temos que fugir do exclusivismo e da tendência de pensar que somos os mais perfeitos dentre os mortais. A forma pode variar desde que não afete o conteúdo, a essência - isso é que devemos propagar e defender. 

Aí então, percebemos que muitos defendem com mais energia a não mudança ou o aperfeiçoamento de métodos e formas já comprovadamente ineficazes do que a própria fé cristã como orienta a epístola de Judas. 

O zelo tornou-se obsessão arrogante e o amor transformou-se em cegueira espiritual. 

O orgulho denominacional tem crescido, principalmente nas igrejas mais antigas, tradicionais e históricas, e esse crescimento nada traz de bom a causa de Cristo ou a expansão da Igreja, mas tem alcançado também as novas e já percebemos os conflitos desnecessários que causam. 

Mais reflexão bíblica e menos paixão denominacional, são aconselháveis em nosso contexto atual.

Nos desapegarmos de costumes e tradições denominacionais  que já não tem sentido ou necessidade é algo a se considerar para que cresçamos e façamos a diferença em nosso presente século. A idéia equivocada de que é pecado mudar procedimentos ou formas deve ser rejeitada e o aprimoramento de nossa atuação exige muitas vezes um replanejamento e direcionamento adequados e contextualizados.

O questionamento da postura de meros replicantes do passado é crucial. O cristão "papagaio de pirata" que somente repete sem avaliar, sem julgar o que lhe é ensinado ou imposto pelas organizações não tem mais espaço em uma Igreja que deseja aprender com seus erros e progredir em sua expansão. As questões secundárias (as que não dizem respeito ao texto bíblico) devem ser reavaliadas e provadas em seu funcionamento, operacionalidade e eficiência. 

Não podemos e não devemos canonizar o que não é sagrado.

As desculpas de termos e seguirmos linhas teológicas variadas e de possuirmos histórias diferentes não justificam ou explicam os erros cometidos ou a ausência de reflexão sobre o assunto em questão. 

Pensemos urgentemente com seriedade sobre essas questões.

Prof. Magdiel Anselmo.


quarta-feira, 25 de julho de 2018

O Cristão e a Vida Acadêmica.

Vivendo e atuando no ambiente acadêmico a anos como professor universitário, tenho observado o aumento significativo de cristãos nas Universidades e Faculdades, e isso tem trazido algumas consequências tanto para a própria Academia como para a vida destes cristãos. 
Em minha adolescência não me lembro de termos nenhum dos jovens de nossa igreja local na Universidade, tínhamos um contingente de jovens cristãos muito inferior ao que temos hoje no ensino superior. Hoje temos uma grande quantidade de jovens que tem se preparado academicamente e a presença de cristãos protestantes dentro da Academia tem aumentado consideravelmente. A ABUB (Aliança Bíblica Universitária do Brasil) tem trabalhado na evangelização de jovens dentro dos centros universitários desde a década de setenta.
O interesse dos protestantes pela Academia não é novo, um exemplo bem conhecido dos reformados é a Academia de Genebra criada por Calvino e tantos outros centros acadêmicos criados por cristãos como Oxford, Yale e Princeton. No Brasil temos a Universidade Presbiteriana Mackenzie que tem sido uma escola de destaque em solo brasileiro, na verdade desde a chegada dos protestantes no Brasil há interesse pela educação seja ela básica ou superior. 
Entretanto, nas últimas décadas, a chegada de cristãos de uma forma geral (protestantes, evangélicos pentecostais e mesmo os neopentecostais com seus equívocos teológicos de toda ordem) nas Universidades e Faculdades, tem alterado o ambiente das aulas e sem dúvida, estimulado o surgimento de conflitos e problemas que se não forem tratados adequadamente produzirão malefícios a ambos os lados (Academia e cristãos).
Nesse processo de volta ou de chegada, principalmente dos cristãos protestantes e evangélicos a Academia, algo que sempre foi difícil no Brasil por conta da condição financeira e na defasagem da educação da maioria dos evangélicos, e tendo vivenciado como aluno conflitos que hoje observo em meus alunos, é que entendo relevante e urgente o trabalhar desta questão pelos pais cristãos e pelas igrejas locais de uma forma geral. Alguns fatores positivos e negativos colhemos desta questão quando trabalhada. Vejamos de forma panorâmica, estes fatores:

O primeiro fator que enxergo e de forma positiva, é o fato de a condição econômica ter melhorado nos últimos anos por conta inicialmente da estabilização da moeda e de programas educacionais que foram implantados, tivemos a oportunidade de educar jovens cristãos no ensino superior (se bem que nos últimos anos, estes programas tem sido negligenciados pelo Estado devido a queda abrupta da credibilidade na gestão da economia brasileira, abandonando os jovens que aderiram a eles, mas de forma geral, ainda são benéficos e positivos). 

No entanto, temos o segundo fator e lado negativo da questão. É inegável que muitos jovens cristãos quando chegam na Universidade ficam desmotivados e confusos por conta dos confrontos das ideias cientificas que querem destruir a religião de uma forma geral. Com isso temos alguns efeitos interessantes, primeiro temos aqueles que vivem uma dicotomia, a figura do professor universitário é uma autoridade em sala de aula e ali a ciência está em primeiro plano, ali não é lugar para a fé (essa é uma observação que ouvi muito de professores na graduação), mas, lugar de investigação cientifica, portanto o método cientifico supera as questões religiosas. Com isso muitos jovens tem uma cosmovisão bifurcada, na Academia e na Igreja Local que congregam. Muitos jovens não sabem explicar porque creem na Bíblia, não sabem explicar sobre a pessoa de Cristo ou sobre pecado e salvação. Dentro desse primeiro ponto temos algumas questões a tratar, na maioria das vezes as igrejas não fornecem suporte a esses adolescentes e jovens que tem ido à Universidade, por isso é necessário que a igreja se preocupe com isso, não impedindo que o jovem cristão vá a Universidade, mas o preparando para estar lá. E aqui, sem dúvida, se aplica o ensino teológico de qualidade (mesmo que ainda básico), em Escolas Bíblicas e/ou atividades semelhantes no âmbito da Igreja Local

Questões como teoria da evolução, Criacionismo, a existência de Deus, a questão do mal, a inerrância e suficiência da Bíblia e muitas outras questões que se levantam na Universidade devem ser trabalhadas em classes de jovens e adolescentes nas Igrejas Locais (congregações). E eles devem ser instruídos desde a pré-adolescência. Ao que vemos hoje, posso dizer pela experiência que há um interesse maior dos jovens por questões relacionadas a Apologética Cristã (especificamente, defesa da fé cristã) por conta do confronto que sofrem não só nas Universidades e Faculdades, mas também em escolas de ensino fundamental e médio. O fato de ainda não termos atentado no Brasil para uma Educação Cristã dificulta muito a formação de nossas crianças. De certa forma, há uma negligencia ao mandato cultural e social, na maioria das vezes defendemos que só a evangelização é a missão da Igreja e não a transformação da cultura. Quando fazemos nosso papel na sociedade existe uma alteração cultural, existe uma evangelização integral. E ao tratarmos dessa integralidade não me refiro somente a uma questão de justiça social no que se refere a um recorte e cuidado com os pobres, mas na educação do nosso povo e daqueles que não são cristãos também. 

Abro um parênteses aqui: Devo incluir aqui também a necessidade urgente da criação e implantação de escolas de ensino infantil, fundamental e médio confessionais (raras existem) para que pais cristãos possam ter uma opção diante da escola formal que se apresenta com suas tendências, filosofias e políticas que confrontam os princípios e valores bíblicos. Sem dúvida, a Igreja tem negligenciado esta sua função na sociedade brasileira e abandonado nossas crianças, adolescentes e jovens a mercê do Estado, e isto traz consequências quando estes chegam a Academia sem a bagagem e conhecimento suficientes para fazer frente a investida massiva contra o Cristianismo no ambiente acadêmico. (fecho o parênteses)

Depois e em consequência do que já abordei, vem o terceiro fator. 
Temos aqueles que abandonam a fé por não terem “provas” consubstanciais da fé. Por isso, a Apologética Cristã, (além do ensino das doutrinas fundamentais da fé cristã), é relevante e devemos ensinar os jovens cristãos a terem uma cosmovisão Bíblica e Cristocêntrica. É necessário que se prepare os jovens para a entrada na Universidade, seja através de palestras na Igreja Local, escolas bíblicas e/ou ensino confessional, trabalhando pontos específicos relacionados ao contexto que eles irão integrar. 

Um livro que recomendo e sugiro a todos os jovens cristãos que tem seguido no campus universitário é sem duvida “De todo o teu entendimento” do teólogo luterano Gene Edward Veith. Esta obra, dentre outras, irá mostrar de forma clara e de fácil compreensão como um cristão deve se portar no ambiente acadêmico tomando como base Daniel e seus amigos na corte de Nabucodonosor. Aqueles jovens estavam em Babilônia, exilados, e foram escolhidos para estudarem, note que eles já eram jovens de grande evidencia por seu intelecto e dedicação (Cap. 1 de Daniel).

Veith nos diz algo precioso:

"Em muitos aspectos, a experiência de Daniel é notavelmente parecida com a dos cristãos de hoje. Os estudantes cristãos numa universidade secular, ou os cristãos que confrontam a cultura contemporânea e o mundo intelectual atual se sentirão frequentemente como exilados numa terra estranha e hostil, assim como Daniel se sentiu. No entanto, o primeiro capitulo de Daniel sugere que é possível que alguém que crê no Deus verdadeiro se beneficie da instrução vigente. Ele mostra as provações, tentações e pressões com as quais ele pode deparar, mas também sugere como lidar com elas. Daniel conseguiu aprender a ciência Babilônica sem fazer a mínima concessão quanto a qualquer ponto doutrinal ou moral. Na verdade, Daniel, Sadraque, Mesaque, e Abede-Nego conseguiram prosperar na Universidade da Babiônia, mas a fé que eles tinham permitiu-lhes verdadeiramente superar seus contrapartes pagãos em seus próprios termos."

É bom notarmos também que eles não comeram dos manjares do rei, porque eram oferecidos aos ídolos, exemplo precioso aos jovens crentes, lembre-se que você está em uma Babilônia e que muitas coisas oferecidas ali, até certos conteúdos curriculares são semelhantes aos  mencionados manjares.

Um quarto fator que não podemos deixar de abordar é o deslumbre de muitos cristãos ao chegarem ao ambiente acadêmico que, além do pecado que tenazmente os assedia neste ambiente novo e multifacetado, muitos acabam tornando tudo aquilo a fonte de conhecimento absoluto e desprezam a Palavra de Deus, se não formalmente, mas ideologicamente.  Qual o fim disso? O fim se dará no final da vida quando se notará que o conhecimento sem Deus é fútil como Salomão dizia:

Falei eu com o meu coração, dizendo: Eis que eu me engrandeci, e sobrepujei em sabedoria a todos os que houve antes de mim em Jerusalém; e o meu coração contemplou abundantemente a sabedoria e o conhecimento. E apliquei o meu coração a conhecer a sabedoria e a conhecer os desvarios e as loucuras, e vim a saber que também isto era aflição de espírito. Porque na muita sabedoria há muito enfado; e o que aumenta em conhecimento, aumenta em dor.Eclesiastes 1:16-18

Eu apliquei o meu coração para saber, e inquirir, e buscar a sabedoria e a razão das coisas, e para conhecer que a impiedade é insensatez e que a estultícia é loucura. Eclesiastes 7:25

De fato devemos encorajar os nossos jovens a estarem em ambiente acadêmico, na Reforma Protestante uma das questões trabalhadas na Teologia dos Reformadores foi a questão vocacional, isso deve ser enfatizado aqui, Deus chama homens e mulheres para serem médicos, engenheiros, advogados, políticos, economistas, artistas, cientistas. Quando esse chamado tem consciência de sua vocação e de que forma ou por que lente deve ser tratada determinada ciência chegaremos a um conceito chave mais profunda e numa cosmovisão cristã. 

Para concluirmos, não poderíamos deixar de citar esse trecho das Escrituras que encorajador a jovens estudantes cristãos:

Quanto a estes quatro jovens, Deus lhes deu o conhecimento e a inteligência em todas as letras, e sabedoria; mas a Daniel deu entendimento em toda a visão e sonhos. E ao fim dos dias, em que o rei tinha falado que os trouxessem, o chefe dos eunucos os trouxe diante de Nabucodonosor. E o rei falou com eles; entre todos eles não foram achados outros tais como Daniel, Hananias, Misael e Azarias; portanto ficaram assistindo diante do rei. E em toda a matéria de sabedoria e de discernimento, sobre o que o rei lhes perguntou, os achou dez vezes mais doutos do que todos os magos astrólogos que havia em todo o seu reino. Daniel 1:17-21


Portanto e finalmente chego a um chamado e advertência a todos que amam a Deus, Sua Palavra e Sua Igreja (onde cada um de nós é um membro) e que, por conta disso, tem responsabilidade com as atuais e novas gerações de cristãos. Precisamos como Igreja, preparar melhor nossos jovens para a entrada na Academia, e para o convívio num ambiente e campus universitário, onde, sem dúvida, encontrarão obstáculos, filosofias, crenças e direcionamentos ideológicos, religiosos, culturais, etc, de toda ordem e tipo.
Consideremos esta necessidade e reconheçamos nossa negligencia.
Mudemos nossa postura diante deste fato e amemos nossos jovens a tal ponto de nos preocuparmos com seus conflitos, dilemas e anseios.
Deus nos capacite para tal missão.

Leitura Recomendada a Cristãos Universitários:

A Morte da Razão – Francis Schaeffer, Ed. Ultimato.
O Deus que se revela - Francis Schaeffer, Ed. Cultura Cristã.
O Deus que intervém - Francis Schaeffer, Ed. Cultura Cristã.
Discípulo Radical – John Stott, Ed. Ultimato.
De Todo o teu entendimento – Gene Edward Veith Jr. Ed, Cultura Cristã.
Tempos Pós- Modernos - Gene Edward Veith Jr. Ed, Cultura Cristã.
No Crepúsculo do Pensamento – Herman Doeeyweerd, Ed. Hagnos.
Os cristãos e os Desafios contemporâneos – John Stott, Ed. Ultimato.
Pense Biblicamente – John MacArthur, Ed. Hagnos.
Filosofia e Fé Cristã - Colin Brown - Ed, Vida Nova.

Prof. Magdiel Anselmo. 

O alerta da epístola de Judas


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“Amados, quando empregava toda a diligência em escrever-vos acerca da nossa comum salvação, foi que me senti obrigado a corresponder-me convosco, exortando-vos a batalhardes, diligentemente, pela fé que uma vez por todas foi entregue aos santos.”
Judas 3

Judas, a princípio, tinha a intenção de escrever sobre questões referentes à salvação, porém como se vê, foi obrigado a exortar a Igreja sobre a batalha pela fé cristã. Esta sua observação deveria nos fazer repensar sobre a busca ou defesa da unidade da Igreja, alardeada por alguns. Esta defesa não é em si errada, mas a forma sim, pois muitos de seus defensores não se dão ao trabalho de fazer uma devida análise dos fatos e sem dúvida, de levar em alta consideração as advertências bíblicas para questões como estas.
Diferentemente da posição adotada por muitos defensores do ecumenismo, da psicologização da Igreja, propagadores de uma teologia “liberal” e pragmática, que se aproveitam da imaturidade de muitos cristãos, a Palavra de Deus nos alerta para ataques que tentam ruir e minar as colunas basilares da fé evangélica. Judas se referia a pessoas que naquela época, se infiltravam na Igreja com a intenção de atacar doutrinas basilares da fé cristã, ou seja, segundo suas palavras, "...que transformam em libertinagem a graça de nosso Deus e negam o nosso único e Soberano e Senhor, Jesus Cristo." . 
Vamos então extrair os ensinamentos da epístola para pautar nossas ações atuais, pois a boa hermenêutica e exegese bíblicas, nos ensinam que quando vivemos em situações semelhantes ao contexto do texto bíblico, que é o caso de nossos dias, devemos aplicar os princípios e ensinos ali revelados. É o que farei aqui. 
Sabemos que a história da Igreja Cristã registra vários e meticulosos ataques e perseguições, desde os cativeiros do AT até o assassinato de cristãos em arenas, praças públicas e fogueiras, além das várias tentativas de destruir as Escrituras e da proibição de possuí-la. Estas foram apenas algumas formas usadas para impedir que a crença no Deus da Bíblia se propagasse e multiplicassem seus seguidores. Tentativas essas que não surtiram o efeito desejado por seus idealizadores.
Mas, a epístola de Judas revela-nos um ataque muito mais minucioso e poderoso que, percebemos pelo texto, já foi usado no passado.
Da mesma forma que o apóstolo Pedro em sua segunda epístola, Judas descreve com detalhes todo esse plano maligno contra a Igreja e nos adverte para seus ardilosos objetivos.
A característica ou marca principal desse ataque é que não mais se trata de um ataque externo e aberto. Como em uma tática de espionagem e em alguns casos até de guerrilha, o inimigo não se mostra e muito mais se traveste de seguidor da mesma causa e crença.
Trata-se de um ataque de dentro das paredes da Igreja. Um ataque interno, sutil e processual. Com a intencionalidade de aos poucos transtornar e desvirtuar a comunicação e exposição da mensagem bíblica legítima.
Afirmo que é poderoso porque estamos muito mais preparados para contra-atacar um mover claramente externo contra a Igreja. Já temos experiência contra falsos ensinos, heresias e movimentos de todos os tipos vindos de fora. Porém, quando se trata de algo que está entranhado dentro do Cristianismo e que assevera ser seguidor de Cristo e nosso irmão, ficamos atônitos e paralisados, com medo de pecar julgando ou atacando nossa própria irmandade.
Este é o grande estratagema diabólico. Usar nossos próprios conceitos de comunhão e amor contra nós mesmos. Se utilizar de nossa boa fé com relação a nossos “irmãos” para nos destruir, roubar e matar.
Veja os detalhes da metodologia diabólica e das advertências descritos por Judas sob a direção do Espírito Santo:

“(...) certos indivíduos se introduziram com dissimulação, os quais, desde muito, foram antecipadamente pronunciados para esta condenação, homens ímpios, que transformam em libertinagem a graça de nosso Deus e negam o nosso único e Soberano e Senhor, Jesus Cristo.”
Judas 4

Introduziram-se, Infiltraram-se na Igreja, ou seja, estão entre nós. Pedro em sua segunda epístola corroborando com Judas, afirma:
“Assim, como no meio do povo, surgiram falsos profetas, assim também haverá entre vós falsos mestres, os quais introduzirão, dissimuladamente, heresias destruidoras, até ao ponto de renegarem o Soberano Senhor que os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina destruição. E muitos seguirão suas práticas libertinas e por causa deles, será infamado o caminho da verdade, também, movidos por avareza, farão comércio de vós, com palavras fictícias; para eles o juízo lavrado há longo tempo não tarda, e a sua destruição não dorme.”  2 Pedro 2: 1-3.

Vemos, então que são pessoas infiltradas com o objetivo de destruir a Igreja.
Mas Deus não nos deixaria a mercê de tal investida.
Desta forma, Judas, continua revelando a Igreja, quais são as características dessas pessoas infiltradas com intenção de transtornar a vida da Igreja. Veja com atenção para que você possa identificá-las segundo a orientação bíblica.

(Judas 8) - *Sonhadores alucinados: Alegam serem profetas e receberem revelações divinas além e que muitas vezes contrariam a Bíblia, para justificar os seus malfeitos e carnalidade. Interessante que uma pessoa alucinada pode ver vultos, ouvir vozes, etc. Ter alucinações de todos os tipos. Estão sempre sonhando e a todo instante desejam interpretar os sonhos de outros que desavisadamente acreditam ser obra de Deus.
O apóstolo em 2 Pedro 2: 10 chama-os de “atrevidos”. É bem o que realmente são.

(Judas 8) - *Rejeitam governo (liderança) e difamam autoridades superiores: Não aceitam nenhuma liderança ou orientação pastoral sobre eles. Chegam mesmo a afirmam que o pastorado é invenção humana, não de Deus. Não aceitam ser ensinados. São desrespeitosos com aqueles que Deus chamou para ensinar a Palavra de Deus e com suas atitudes mundanas e sem temor a Deus, buscam contaminar o rebanho do Senhor com filosofias e conceitos humanos que contrariam e afrontam as Escrituras.

(Judas 16) - *Arrogantes, descontentes e murmuradores: Não estão satisfeitos com o Evangelho, com os ensinos de Cristo e com a vida cristã determinadas para nós pelas Escrituras. Desejam e ensinam a todo instante “tomar posse, determinar a bênção, exigir as promessas...”, são adeptos da "cura interior" (que não entende suficientes o sacrífico e perdão de Cristo), etc...
Além disso, sem medir as conseqüências espirituais de tais atitudes, praticam a absurda “oração ao diabo” ou “oração forte” onde se dirigem a ele em tom de desafio, contrariando a orientações e ensinos bíblicos da oração direcionada a Deus.
Descontentes com o crescimento natural da Igreja se arrogam no direito de propagar novas fórmulas mágicas de crescimento rápido e eficiente tendo como parâmetros valores mundanos e técnicas no mínimo suspeitas.

(Judas 16) - *Aduladores e interesseiros: A ênfase é a prosperidade material e para isso utilizam de técnicas de manipulação psicológica, autoajuda, pensamento humanista, incentivo ao egocentrismo, etc. O apóstolo Pedro afirma em 2:3 que “movidos pela ganância farão comércio de vós...” É isso que desejam. São oportunistas, adeptos da pregação triunfalista. Visam à prosperidade financeira pessoal e farão tudo para alcançá-la. Não importa se para isso tiverem que comercializar a fé de outros ou mercadejar a pregação evangélica. Todos os seus elogios a outros buscam o interesse próprio. São profundamente interesseiros e egoístas.

Estes são algumas das características destes “enviados de satanás” contra a Igreja. E o objetivo é bem claro e Judas os revela.
(Judas 19) – Promover divisões: Esta é a intenção dos falsos mestres infiltrados na Igreja. Dividir para destruir. 
(Judas 22) – Produzir dúvida: Semear a dúvida com relação à fé cristã e suas doutrinas são metas claras para esta investida diabólica. A dúvida mina a fé e provoca desanimo no cristão e entristece o Espírito Santo. Sem fé é impossível agradar a Deus. Diminuir a fé ou mesmo destruí-la pela dúvida são objetivos destes infiltrados.

O que fazer diante deste poderoso ataque contra a Igreja?
Deus, usando Judas e Pedro nos orienta:

“(...) Vós, porém amados, edificando-vos na vossa fé santíssima, orando no Espírito Santo, guardai-vos no amor de Deus, esperando a misericórdia de nosso Senhor Jesus Cristo, para a vida eterna. E compadecei-vos de alguns que estão na dúvida; salvai-os, arrebatando-os do fogo; quanto a outros, sede também compassivos em temor, detestando até a roupa contaminada pela carne.” Judas 20-23.

“(...) Vós, porém amados, prevenidos como estais de antemão, acautelai-vos; não suceda que, arrastados pelo erro desses insubordinados, descaiais da vossa própria firmeza. Antes, crescei na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. A Ele seja a glória, tanto agora como no dia eterno.” 2 Pedro 3: 17,18.

Seguindo a orientação daquele que é Poderoso para nos guardar de tropeços e para nos apresentar com exultação, imaculados diante da Sua Glória, edifiquemo-nos na fé, oremos sem cessar,  estudemos com dedicação as Escrituras e esperemos a gloriosa volta de Cristo e em compaixão salvemos e arrebatemos do fogo os que estão sendo enganados em resultado deste ataque contra a Igreja.
Permaneçamos firmes. Cresçamos e façamos o que Deus nos orienta.

“Ao único Deus, nosso Salvador, mediante Jesus Cristo, Senhor nosso, glória, majestade, império e soberania, antes de todas as eras, e agora, e por todos os séculos. Amém.
Judas 25.

 Pr. Prof. Magdiel G Anselmo.









IGREJA - ORGANIZAÇÃO ESPIRITUAL OU MAIS UM EMPREENDIMENTO EMPRESARIAL?


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Mesmo entendendo que a Igreja Cristã é acima de tudo um organismo vivo (Corpo de Cristo, Noiva do Cordeiro, Igreja Invisível, etc...), e que ao mesmo tempo também se constitui em uma organização (forma do organismo-igreja se comunicar e se tornar visível ao mundo), penso que mesmo em sua forma visível (igreja-organização) e mais fácil de entender, muita confusão se faz, deturpando os objetivos e causas de sua necessária organização.
A falta de compreensão quanto a como e porque a Igreja deve ser organizada, faz com que se organize e administre-se levando em conta parâmetros, princípios e fundamentos que não são os ideais para sua vida e crescimento segundo os reais propósitos originários de sua existência e missão, que são essencial e prioritariamente espirituais.
Para expor com maior clareza o assunto precisamos primeiro definir cada uma das respostas à questão.
Primeiro então definamos o que é uma organização espiritual.
Conforme o Dicionário Contemporâneo da Língua Portuguesa, uma organização define-se “por uma reunião de pessoas com o mesmo objetivo e interesses”, ou seja, seria similar a uma associação com ideais comuns. Logo, complementando do ponto de vista cristão, entendemos a partir dessa premissa que uma organização espiritual define-se por uma reunião de pessoas com interesses e objetivos comuns tendo como prioridade e fundamento os princípios e valores espirituais revelados nas Escrituras Sagradas.
Sendo assim, a Igreja Cristã é uma reunião de pessoas salvas por Cristo, que mediante Suas orientações, princípios e valores revelados na Bíblia se organizam em grupos ou denominações para adorá-lo, cultuá-lo e obedecê-lo em tudo que lhes foi comunicado.
Há muitas outras definições para Igreja, mas creio que esta alcança o objetivo de clarear o assunto em questão.
Definamos agora o que é um empreendimento empresarial.
O mesmo dicionário já mencionado define empreendimento como uma obra, uma realização, uma empresa ou um negócio. Já o termo empresarial é derivado do termo empresa que é definido por “uma organização que produz, vende e/ou oferece bens e serviços”.
Perceba que as definições vistas em um dicionário são muito semelhantes quando se considera apenas etimologicamente os termos e expressões, porém o sentido mais amplo as faz distanciar-se uma da outra direcionando para objetivos e finalidades totalmente diferentes.
A primeira definição direciona para o espiritual. Têm sua origem, causas, métodos e objetivos pautados e delineados pela Bíblia. O objetivo maior é revelar Jesus Cristo ao Homem e após isso, fazê-lo crescer em conhecimento e graça, prosseguindo para sua glorificação e vida eterna.
Já a segunda direciona para obter vantagens e lucros. É direcionada a filosofia comercial e pragmática de vida. Sua origem e causas nascem muitas vezes na ganância e avareza humanas, seus métodos são humanos e centrados no movimento do mercado, no marketing e na propaganda. Seu maior objetivo é obter lucro, sejam financeiros, notoriedade ou vantagens.
Ressalto que nada tenho contra a administração empresarial ou ao produzir e comercializar produtos de uma forma geral. Não seria alienado a ponto de desprezar a revolução industrial em suas várias atividades e muito menos negligenciar as melhorias e avanços proporcionados por ela na qualidade de vida humana atual. A minha argumentação não tem o objetivo de ignorar isso, mas se restringe ao contexto da vida cristã e da Igreja Cristã. Penso que todos os avanços e progressos têm seu lugar na vida humana, o que não pode e não deve acontecer é mesclar ou misturar conceitos e princípios sem antes discernir se estes possuem identificação com os objetivos de cada uma das organizações ou empreendimentos mencionados no título desta postagem.

Como diz um ditado popular: “cada macaco no seu galho”.

Por que digo isso? Porque a administração empresarial tem se instalado nas igrejas evangélicas a tal ponto que a própria Palavra de Deus em muitos casos acaba sendo algo secundário. O que importa são os conceitos de marketing e propaganda. Como se a Igreja comercializasse um produto e os crentes fossem vendedores ávidos por alcançar consumidores.
Obreiros são treinados não para pregar a Palavra ou para abençoar em Cristo as pessoas. São treinados como se fossem integrantes de uma equipe de vendas, tendo seu pastor como o diretor comercial e a igreja como uma empresa em que foram contratados para exercer tal função. Aprendem técnicas para convencer, fórmulas para agradar aos outros com a intenção de oferecer o produto “Jesus”.
As pregações são palestras motivacionais idênticas as que são realizadas em empresas como a clara intenção de motivar seus funcionários e conseqüentemente render mais em seus trabalhos e produzir muito mais lucro para suas empresas.
Os crentes são agradados para não deixar de consumir. A todo o momento, o produto principal (o carro-chefe) é enfeitado e demonstrado com mil e uma utilidades. O produto proporciona cura para todas as enfermidades. Proporciona riquezas, sucesso, prosperidade. Também, se consumido corretamente traz toda sorte de bênçãos materiais. Faz você conquistar posições elevadas e todos verão como você ficou feliz. Conforme a necessidade do consumidor o produto é oferecido de forma que seja consumido.
Estratégias de marketing são aplicadas. A propaganda é imensa (rádio, TV, internet...). Afinal de contas, a propaganda é a alma do negócio.
Juntamente com esta filosofia comercial, vem também a política do levar vantagem em tudo. Não se consideram as orientações bíblicas para as atitudes e métodos. O importante é alcançar o objetivo. “Os fins justificam os meios”.
Os novos candidatos ao pastorado são ensinados nestas igrejas-empresas desde muito cedo que terão que se sujeitar aos critérios da “empresa”. Terão que apoiar e participar de uma política mundana de acepção de pessoas, de obter vantagens eclesiásticas ou de defender seus pares não importa o que tenham feito. Nisso deverão se comprometer, se é que desejam serem realmente “pastores”. São submetidos a verdadeiros interrogatórios e constrangimentos chamados de exames, concílios, provas, entrevistas ou outra nomenclatura usada por cada denominação.
Momentos em que os já consagrados ou ordenados (os diretores comerciais e os gerentes de vendas) vão se “divertir” à custa do nervosismo e medo do candidato. Momentos em que aqueles que não “gostavam” daquele candidato se aproveitam para vingativamente deixá-lo em situações complicadas e constrangedoras. Lamentavelmente já presenciei verdadeiros massacres eclesiásticos de candidatos e seminaristas, que em algumas vezes eram em conhecimento e exemplo de vida cristã superior aos seus examinadores.
A vida pessoal é devassada e muitas vezes revelada a todos. São humilhados e nada podem falar. É a política da empresa. Senão acabam “demitidos” ou “deixados na geladeira” ou “fritados”, que são expressões mundanas usadas por alguns pseudo-pastores com relação a seminaristas e candidatos ao episcopado.
Ressalvo que ainda existem muitos bons pastores e exames ministeriais sérios e responsáveis, porém isso não exclui os maus e irresponsáveis. Não estou aqui generalizando, apenas constato um fato.
Nessas igrejas-empresa, as demais pessoas da congregação são ensinadas a vir buscar as bênçãos e nunca a ser bênçãos. Tornam-se simples consumidores e nunca ficam satisfeitos. Querem sempre mais.
A igreja tornou-se uma empresa e ás vezes até uma empresa muti-nacional. Seus líderes fazem parte da equipe de vendas, marketing e publicidade. Os crentes são meros consumidores de um produto que não os satisfaz porque na verdade não existe. É apenas uma ilusão pregada como se fosse o Evangelho, mas de forma alguma o é.
A verdadeira Igreja de Cristo não se confunde com o mundo. Não se conforma com ele.
Ela tem os seus próprios parâmetros, referenciais e paradigmas. Todas as suas atitudes, ações, ensinos e comunicação são fundamentados e supervisionados pela santa Palavra de Deus. A Bíblia é o seu manual de regra e prática. Não os conceitos humanos de administração empresarial. Não a filosofia do obter vantagens e lucros. Não os conceitos da psicologia motivacional ou da Propaganda e Marketing.
Todas essas linhas de pensamento ou de ação têm o seu lugar e propósito e devem primeiro ser filtradas e peneiradas pela Palavra e quando alinhadas e em coerência com essa, aí então ser aplicadas. Nunca o contrário, jamais o inverso.
Os líderes na Igreja devem conhecer o manual. Conhecer a Bíblia e usá-la em seu trabalho. Isso é prioridade. Isso é fundamental.
Igreja Cristã não é empresa. Pastor não é chefe, patrão, funcionário ou empregado. Crentes não são vendedores e muito menos meros consumidores superficiais. Jesus não é um produto.
Igreja Cristã é a Embaixadora de Cristo nesta Terra. Sua missão é propagar, pregar e comunicar o Evangelho de Cristo (as Boas Novas de Salvação) a toda criatura e deve fazer isso juntamente com seu culto a Deus. Deve ser uma comunidade fraternal, solidária, educadora, trabalhadora, servil, edificante e edificadora. Deve ser conhecida pelo amor a Deus e as pessoas. Deve ser contagiada e movida pelo Espírito e Nele viver.
Isso é Igreja.
Deixemos os conceitos empresariais para as empresas.
Valorizemos a Palavra de Deus. Não precisamos de mais nada, de nenhum acréscimo para cumprirmos nossa missão. Deus nos garante isso.

“Atendei por vós e por todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo os constituiu bispos, para pastoreardes a Igreja de Deus, a qual Ele comprou com seu próprio sangue.” Atos 20:28

(...) para que pela Igreja a multiforme sabedoria de Deus se torne conhecida, agora, dos principados e potestades nos lugares celestiais, segundo o eterno propósito que estabeleceu em Cristo Jesus, nosso Senhor, pelo qual temos ousadia e acesso com confiança, mediante a fé Nele.” Efésios 3: 10-12.

“(...) para que, se eu tardar, fique ciente de como se deve proceder na casa de Deus, que é a Igreja do Deus vivo, coluna e baluarte da verdade.” 1 Timóteo 3:15

“Toda a Escritura é divinamente inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a edificação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda a boa obra.” 2 Timóteo 3: 16,17.


Pr. Prof. Magdiel G Anselmo.



"Cair no Espírito" é Bíblico?


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Neste breve artigo, busco esclarecer a história deste movimento, bem como o que as Escrituras dizem acerca desta atitude.
Será coerente com as Escrituras o "cair no Espírito"? Será que o Espírito provoca e causa este tipo de reação nas pessoas? 
Bem... vejamos então.

1. Breve Histórico do Movimento 
Em 1923, o missionário sueco Gunnar Vingren, um dos fundadores da Assembléia de Deus no Brasil, fora informado de que um certo movimento pentecostal começava a alastrar-se por Santa Catarina. Sem perda de tempo, Vingren deixou Belém do Pará, berço do pentecostalismo brasileiro, e embarcou para o Sul. No endereço indicado, veio ele a constatar: “Não se tratava de pentecostes, mas de feitiçaria e baixo espiritismo”.
Embora fervoroso pentecostal, Gunnar Vingren não se deixou embair pelo emocionalismo nem pelas aparências. Ele sabia que nem tudo o que é místico, é espiritual; pode brilhar, mas não é avivamento. O misticismo manifesta-se também em rebeldias e mentiras. Haja vista as seitas proféticas e messiânicas.
Teve este pioneiro do movimento pentecostal, discernimento para não aceitar aquele arremedo de pentecostes (hoje isso falta, e muito, a maioria dos ditos, pentecostais e carismáticos)Entre as manifestações presenciadas por Gunnar Vingren, achava-se o “cair no poder” que, já naquela época, era conhecido também como “arrebatamento de espírito”. À primeira vista, impressionava; fazia espécie. Não resistia, contudo, ao mínimo confronto com as Escrituras. E nada tinha a ver com as experiências semelhantes que se acham nas páginas da Bíblia.
Irreverente e apócrifo, esse misticismo não se limitou à geração de Vingren. Continua a assaltar a Igreja de Cristo, principalmente aos grupos pentecostais e neopentecostais, com demonstrações cada vez mais peregrinas e contraditórias. O seu alvo? Levar a confusão ao povo de Deus. No combate a tais coisas, haveremos de ser enérgicos, sábios e convincentes. Mas sempre equilibrados. Através da Bíblia, temos a obrigação de mostrar a pureza e a essência de nossa crença, e a “batalhar pela fé que uma vez foi dada aos santos” (Jd 3).
Neste artigo, me detenho apenas no fenômeno do “cair no Espírito”. 

2. O Que é o “Cair no Espírito”?
Embora não seja alguma novidade, o “cair no Espírito”, como vem sendo caracterizado, começou a ganhar notoriedade a partir de 1994. Neste ano, a Igreja Comunhão da Videira do Aeroporto de Toronto, no Canadá, passou a ser visitada por milhares de crentes – todos à procura de uma bênção especial. Ao contrário das demais igrejas pentecostais, que não tinha este procedimento na época, a Igreja do Aeroporto, como hoje é conhecida, granjeou surpreendente notoriedade em virtude das manifestações que ocorriam em seus cultos.

Dizendo-se cheios do Espírito, os frequentadores dessa igreja começaram a manifestar-se de maneira estranha e até exótica. Em dado momento, todos punham-se a rir de maneira incontrolável; alguns chegavam a rolar pelo chão. Justificando essa bizarria, alegavam tratar-se de santa gargalhada. Ou gargalhada santa ou ainda, "unção do riso" (que não analisarei aqui neste artigo) Outros iam mais longe: não se limitavam ao estrepitoso dos risos; saíam urrando como se fossem leões; balindo, como carneiros; ou gritando, como guerreiros. E ainda outros “caíam no Espírito”.
À primeira vista, tais manifestações impressionavam.
Impressionavam e impressionam muitos ainda hoje, apesar de não contarem com o necessário respaldo bíblico. Entretanto, não podemos nos deixar arrastar pelas aparências nem pelo exotismo desses “fenômenos”. Temos de posicionar-nos segundo a Bíblia que, não obstante os modismos e ondas, continua a ser a nossa única regra de fé e conduta.
  • O "cair no Espírito" na Bíblia
Nas Sagradas Escrituras, o cair no Espírito não chega a ser um fenômeno; é mais uma reação reverente diante do sobrenatural. Registra-se apenas, tanto no Antigo quanto no Novo Testamento, 11 casos de pessoas que caíram prostradas, com o rosto em terra, em sinal de adoração a Deus. E tais casos não se constituem num histórico; são episódicos isolados. Não têm foro de doutrina, nem argumentos para se alicerçar um costume, nem para se reivindicar uma liturgia; não podem sacramentar alguma prática. Afinal, reação é reação; apesar de semelhantes, diferem entre si. Como hão de fundamentar dogmas de fé?

Verifiquemos, pois, em que circunstâncias deram-se os diversos casos de cair por terra nos relatos bíblicos.
  • A força de uma visão nitidamente celestial
As visões, na Bíblia, tinham uma força impressionante. Agitavam, enfraqueciam e até deitavam por terra homens santos de Deus. Que o diga Daniel. Já encerrando o seu livro, o profeta registra esta formidável experiência: “Fiquei, pois, eu só e vi esta grande visão, e não ficou força em mim; e transmudou-se em mim a minha formosura em desmaio, e não retive força alguma. Contudo, ouvi a voz das suas palavras; e ouvindo a voz das suas palavras, eu caí com o meu rosto em terra, profundamente adormecido” (Dn 10.8,9).
Em sua primeira visão, Ezequiel também se assusta com o que vê. Ele se apavora: “Este era o aspecto da semelhança da glória do Senhor; e, vendo isso, caí sobre o meu rosto” (Ez 1.28). Sem liturgia, ou intervenção humana, o profeta prostra-se todo. E quem não haveria de se prosternar? Mesmo o mais forte dos homens, não se agüentaria diante de tamanho poder e glória. Recurvar-se-ia; lançar-se-ia com o rosto em terra.
Mais tarde, encontraremos Ezequiel noutro caso de prostração: “E levantei-me e saí ao vale, e eis que a glória do Senhor estava ali, como a glória que vira junto ao rio Quebar; e caí sobre o meu rosto” (Ez 3.23). Quem não cairia ante as singularidades da glória de Deus? Quem a resistiria?
Já no final de seus arcanos, Ezequiel vê-se constrangido a comportar-se de igual maneira: “E o aspecto da visão que vi era como o da visão que eu tinha visto quando vim destruir a cidade; e eram as visões como a que vira junto ao rio Quebar; e caí sobre o meu rosto” (Ez 43.3).
Nesses casos, as visões divinas foram tão fortes que levaram tanto Ezequiel como Daniel a caírem por terra. Noutras ocasiões, porém, a ocorrência de visões, igualmente poderosas, não provocou alguma prostração. Haja vista o caso de Isaías. Embora se mostrasse aterrorizado e compungido com a visão do trono divino, não se menciona ter o profeta caído por terra. Isto significa que as experiências, embora semelhantes, possuem suas particularidades e idiossincrasias. Isto é: cada experiência, ou encontro com Deus, é única. Seria tolice pretender repeti-las para que a sua repetição adquirisse foros de doutrina.
  • O impacto de um encontro com Deus
Além das visões, certos encontros com Deus, tanto no Antigo como no Novo Testamento, levaram à prostração. Mencione-se, por exemplo, o que aconteceu a Saulo no caminho de Damasco. O encontro com Jesus foi tão formidável, que forçou o implacável perseguidor a cair por terra, e a reconhecer a autoridade e a soberania do Filho de Deus: “E caindo em terra, ouviu uma voz que lhe dizia: Saulo, Saulo, por que me persegues?” (At 9.4).
Como nos casos anteriores, nada havia sido programado. Saulo foi levado a recurvar-se em virtude da sublimidade do Senhor Jesus. Noutras ocasiões, porém, os encontros com Deus deram-se de maneira suave. A entrevista de Natanael com Jesus é um exemplo bastante típico dessa suavidade tão santa. O que também dizer do encontro de Gideão com o anjo do Senhor? Ou do encontro de Jeremias com Jeová? Este encontro veio na medida certa; veio de acordo com o caráter suave e melancólico do profeta. Mas tivesse Jeremias o temperamento colérico de Paulo, certamente o Senhor teria agido com impacto para que o vaso fosse quebrado e moldado conforme a sua vontade. Como se vê, as experiências variam de acordo com as circunstâncias e a personalidade das pessoas envolvidas no plano de Deus.
  • Diante da autoridade de Cristo
A autoridade do nome de Cristo é mais que suficiente para fazer com que todos os joelhos dobrem-se diante de si. Aliás, chegará o momento em que todos os seres, quer nos céus, quer na terra, quer sob a terra, hão de se curvar diante da infinita grandeza do nome do Senhor Jesus: “Pelo que também Deus o exaltou soberanamente e lhe deu um nome que é sobre todo o nome para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai” (Fp 2.9,10).
Na noite de sua paixão, o Senhor demonstrou quão grande era a sua autoridade: “Quando, pois, (Jesus) lhes disse: Sou eu, recuaram e caíram por terra” (Jo 18.6). Ao contrário dos casos anteriores, nessa passagem quem cai por terra são os ímpios. Recurvam-se estes não em sinal de reverência a Deus, mas em razão da autoridade e soberania irresistíveis de Cristo.
Caso semelhante ocorreu com Ananias e Safira. Ambos caíram por terra em decorrência de sua iniqüidade: “Disse então Pedro: Ananias, por que encheu Satanás o teu coração, para que mentisses ao Espírito Santo e retivesses parte do preço da herdade? Guardando-a, não ficava para ti? E, vendida, não estava em teu poder? Por que formaste este desígnio em teu coração? Não mentiste aos homens, mas a Deus. E Ananias, ouvindo estas palavras caiu e expirou. E um grande temor veio sobre todos os que isto ouviram” (At 5.3-5).

Noutras ocasiões, porém, o Senhor revelou-se de maneira tão suave, que se faz homem diante dos homens. Que encontro mais doce do que aquele que se deu junto ao poço de Jacó? O Senhor revela-se de maneira surpreendentemente afável à mulher samaritana. E a experiência de Nicodemos? Ou a de Zaqueu?

3. Como os Legítimos Representantes de Deus Portaram-se Quando Alguém Caía por Terra?
Ao contrário dos que hoje portam-se como deuses diante de virtuais casos de prostração, os apóstolos de Cristo jamais aceitaram tal deferência. Em todas as instâncias, procuravam sempre glorificar ao nome do Senhor. Em casos semelhantes, até os mesmos anjos agiram com reconhecida e santa modéstia.
Tendo Pedro chegado à casa de Cornélio, a primeira reação deste foi cair de joelhos diante do apóstolo. “Mas Pedro o levantou, dizendo: Levanta-te, que também sou homem” (At 10.25,26). O que fariam os astros do evangelismo dos dias atuais? Humilhar-se-iam como o apóstolo? Ou usariam o evento para incrementar o seu marketing pessoal?
Mesmo um poderoso anjo não se aproveitou da ocasião para atrair a si as glórias devidas somente a Deus. O relato é de João: “Prostrei-me aos seus pés para o adorar. E disse-me: Olha, não faças tal, porque eu sou conservo teu e de teus irmãos, os profetas, e dos que guardam as palavras deste livro. Adora a Deus” (Ap 22.8,9).
O anjo bem sabia que o apóstolo prostrara-se aos seus pés por uma circunstância bastante especifica: não há ser humano que não se extasie diante do sobrenatural. A aparição de um ente celestial sempre perturbou os pobres mortais. Nos dias dos juízes, acreditava-se que a visão de um anjo significava morte certa. Por isso, a primeira reação de uma pessoa ao ver um anjo era curvar-se diante do ser angelical. Quem poderia resistir a tanta glória?
Os anjos, porém, recusavam tal deferência. Houve ocasiões em que o anjo do Senhor aceitou elevadas honrarias. Como conciliar tais questões? No Antigo Testamento, sempre que isso ocorria, era devido a presença de um ser especial, que alguns teólogos não vacilam em apontar como a pré-encarnação de Cristo. De uma forma ou de outra, os anjos eram santos o suficiente para agirem com modéstia e humildade, tributando a Deus todo poder e toda a glória.
Que esta também seja a nossa postura! Quando, por alguma circunstância, alguém cair a nossos pés, levantemo-lo para que tribute a Deus, e somente a Deus, toda a honra e toda a glória. E jamais, sob hipótese alguma, induzamos alguém a prostrar-se com o rosto em terra, pois isto contraria a ética e a postura que o homem de Deus deve ter.

4. Nas Efusões do Espírito Santo de Atos dos Apóstolos houve casos de Prostração?
Na ânsia por justificar o cair por terra que, como já dissemos tem de ser visto como episódio e não como histórico, muitos teólogos chegam a colocar tal reação como se fora uma das evidências da plenitude do Espírito Santo. Que pode haver prostração quando da efusão do Espírito, não o negamos. Pode haver, mas não tem de haver necessariamente, nem precisa haver para que se configure o derramamento do Espírito Santo. A prostração não pode ser vista como evidência, mas como uma reação ocasional e esporádica.
Nos diversos casos de efusão do Espírito Santo, nos Atos dos Apóstolos, não se observou algum caso de prostração. No dia de Pentecoste, segundo no-lo notifica o minucioso e detalhista Lucas, estavam todos assentados no cenáculo (At 2.2). Na casa de Cornélio, onde o Espírito foi derramado pela primeira vez sobre os gentios, também não se observou o cair por terra (At 10.44-47). Entre os discípulos de Éfeso também não se registrou alguma prostração (At 19.6).
Mesmo quando o lugar santo tremeu, não se observou caso algum de prostração (At 4.31). Poderia ter havido? Sim! Mas não necessariamente. 

Conclusões
Daquilo que até agora vimos acerca do “cair no Espírito”, podemos tirar as seguintes conclusões, tendo sempre como base as Sagradas Escrituras:

1. Não se pode realçar a experiência, nem guindá-la a uma posição superior à da Palavra de Deus. A experiência é importante, mas varia de pessoa para pessoa; cada experiência é uma experiência; tem suas particularidades. A experiência tem de estar submissa à doutrina, e não há de modificar, por mais extraordinária que seja, nenhum artigo de fé.
2. O cair por terra não pode ser visto nem como evidência da plenitude do Espírito Santo, nem como sinal de uma vida consagrada. A evidência do agir do Espírito Santo e de uma vida piedosa é o Fruto do Espírito não o cair por terra. 
3. Caso ocorra alguma prostração, deve-se fazer as seguintes perguntas: 1) Qual a sua procedência? 2) Teve como objetivo promover o homem ou glorificar a Deus? 3) Foi usada para catalisar a atenção dos presentes? 4) Foi provocada por sopros, toques ou por algum objeto lançado no auditório? 5) Houve sugestão coletiva? 6) Prejudicou a boa ordem e a decência da igreja? 7) Conta com o respaldo bíblico suficiente? 8) Tornou-se o centro do culto?
4. Devemos estar sempre atentos, pois o adversário também opera sinais espetaculares com o objetivo de enganar os escolhidos: “Surgirão falsos cristos e falsos profetas e farão tão grandes sinais e prodígios, que, se possível fora, enganariam até os escolhidos” (Mt 24.24).
5. Nos diversos exemplos de prostração que fomos buscar na Bíblia, observamos o seguinte: Os personagens que se prostraram, ou foram prostrados, em virtude de alguma experiência sobrenatural, caíram para frente, e não para trás, como está ocorrendo hoje em algumas igrejas. Não era algo programado, nem ministro algum induzira-os a cair. Ou seja: ninguém precisou soprar neles ou neles tocar para que caíssem. Tais modismos têm levado a irreverência e a bizarria ao seio do povo de Deus. Há alguns que se tornaram tão ousados que jogam até os seus paletós a fim de provocar prostrações coletivas. Isto é um absurdo! É antibíblico!
6. Os casos de prostração narrados na Bíblia deram-se em virtude da reverência e temor que os já citados personagens sentiram ao presenciar a glória divina. No Novo Testamento, o termo usado para prostração é “pesotes prosekinsan” que, no original, significa: cair por terra em sinal de devoção. Em Apocalipse 5.14, a expressão grega aparece para mostrar os anciãos prostrados aos pés do Cristo glorificado.
7. Voltemos à questão. Pode acontecer prostração numa reunião evangélica? Pode! Mas não tem de acontecer necessariamente; pode, mas não precisa acontecer, nem ser provocada. Caso aconteça, deve ser encarada como reação ou mesmo, emocionalismo, e não como fato doutrinário. Mesmo John e Charles Wesley, que segundo os relatos, experimentaram um poderoso avivamento, jamais elevaram suas experiências à categoria de doutrina. As heresias nascem quando se supervaloriza a experiência em detrimento da doutrina. Não podemos nos esquecer de que algumas das mais notáveis heresias deste século, nasceram em pleno período de dito, avivamento.

Finalmente, jamais devemos abandonar a Bíblia. 
Não podemos aceitar estas manifestações como se fossem advindas do Espírito e comuns em todas as igrejas cristãs brasileiras. Muitas não as aceitam, mas infelizmente, cresce o número de igrejas de "fundo de quintal" com pessoas desequilibradas e sem conhecimento de Deus como seus líderes, que aliadas ao crescente crescimento das igrejas neopentecostais tem trazido grandes males à propagação do Evangelho de Cristo e ao correto ensino bíblico teológico.  
Ênfases, como o cair no Espírito, hão de surgir sempre. Não devemos nos impressionar com elas, tratemo-las com a devida análise bíblica e teológica. O verdadeiro avivamento não extingue o Espírito, mas também não causa confusão doutrinária e sabe como evitar os excessos.
Oremos e combatamos estas distorções e heresias.

Deus nos abençoe.