quinta-feira, 8 de março de 2018

Meu Deus! Os Filhos Crescem...

Há um período em que os pais vão ficando órfãos de seus próprios filhos. É que as crianças crescem independentes de nós, como árvores tagarelas e pássaros estabanados.
Crescem sem pedir licença à vida. Crescem com uma estridência alegre e, às vezes com alardeada arrogância. Mas não crescem todos os dias, de igual maneira, crescem de repente.
Um dia sentam-se perto de você no terraço e dizem uma frase com tal maneira que você sente que não pode mais trocar as fraldas daquela criaturinha. Você pensa:
Como ela aprendeu a conversar sério daquele jeito, e como seu vocabulário aumentou tanto assim e você não se deu conta?
Onde é que andou crescendo aquela menininha que você não percebeu?
Cadê a pazinha de brincar na areia, as festinhas de aniversário com palhaços e o primeiro uniforme do maternal?
Cadê aqueles pequeninos que nos homenageavam na igreja no dia dos pais e das mães com canções, trazendo com um sorriso maroto flores e gravatas de papelão e nos abraçando com tamanho carinho que não conseguíamos segurar as lágrimas?
É... As crianças estão crescendo num ritual de obediência orgânica e desobediência civil. E você está agora ali, na porta da academia, esperando que eles não apenas cresçam, mas apareçam...
Entre hambúrgueres e refrigerantes nas esquinas, lá estão nossos filhos com uniforme de sua geração.
Ali estão muitos pais ao volante, esperando que elas saiam esfuziantes e cabelos longos, soltos ou eles com os cabelos arrepiados e cheios de gel.
Esses são os filhos que conseguimos gerar e amar, filhos presenteados a nós por Deus, e que apesar dos golpes dos ventos, das colheitas, das notícias, e da ditadura das horas buscamos ensinar, orientar e amar de todo nosso coração.
E eles crescem meio amestrados, observando e aprendendo com nossos acertos e erros. Principalmente com os erros que esperamos que não se repitam.
Mas, há um período em que os pais vão ficando um pouco órfãos dos filhos.
Não mais os pegaremos nas portas das academias e dos passeios e festinhas da escola. Passou o tempo do ballet, do inglês, da natação e do judô. Vão sozinhos para igreja, e ás vezes nem mais para a mesma igreja que congregamos. Começamos a perder o controle que possuíamos sobre suas vidas e isso nos assusta.
Saíram do banco de trás e passaram para o volante de suas próprias vidas.
É nessa fase que ficamos a nos questionar. Será que deveríamos ter estado mais com eles, deveríamos ter ido mais à cama deles ao anoitecer para abençoá-los, para ouvirmos sua alma respirando conversas e confidências entre os lençóis da infância, e os adolescentes cobertores daquele quarto cheio de adesivos, posters, agendas coloridas e discos ensurdecedores. Será que deveríamos ter orado mais por eles ou lido mais a Bíblia juntos?
Não os levamos suficientemente ao Playcenter (lembram dele?), ao shopping, ao cinema, ao Zoológico, não lhes demos suficientes hambúrgueres e refrigerantes, não lhes compramos todos os sorvetes e roupas que gostaríamos de ter comprado. Será que não nos divertimos juntos o suficiente?
Será que ensinamos tudo sobre Deus e Sua Palavra como deveríamos? Fomos bons exemplos?
A verdade é que eles cresceram sem que esgotássemos neles todo o nosso afeto, todo nosso amor. O tempo passou muito rápido.
No princípio iam à praia ou ao clube entre embrulhos, bolachas, engarrafamentos e amiguinhos. Sim, havia as brigas dentro do carro, a disputa pela janela, os pedidos de chicletes e cantorias sem fim.
Depois chegou o tempo em que viajar com os pais começou a ser um esforço, um sofrimento, pois era impossível deixar a turma e os primeiros namorados.
Antes. Íamos à igreja com o carro lotado, com Bíblias por todos os lados e cada um comentando sobre o que seria realizado e outros até ensaiando louvores de última hora.
Depois, o carro começou a ficar vazio e o silêncio muito vezes era somente o que se ouvia.
Os pais ficaram exilados dos filhos.
Tinham a solidão que sempre desejaram, mas, de repente, morriam de saudades daquelas "bagunceiros", daqueles “barulhentos”.
Chega o momento em que só nos resta ficar de longe torcendo e orando muito para que eles acertem nas escolhas em busca da felicidade. E que a conquistem do modo mais completo possível e mais agradável a Deus.
O jeito é esperar: qualquer hora podem nos dar netos (rs).
O neto é a hora do carinho ocioso e estocado, não exercido nos próprios filhos e que não pode morrer conosco. Por isso os avôs são tão desmesurados e distribuem tão incontrolável carinho. Os netos são a última oportunidade de reeditar o nosso afeto.
Por isso é necessário fazer alguma coisa a mais, antes que eles cresçam. Não podemos esperar. O tempo não para. Temos que fazer mais, muito mais
Porque eles crescem.
Meu Deus, como eles crescem...

Magdiel G Anselmo  - pai







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