segunda-feira, 23 de julho de 2018

A teologia da autoestima e o evangelho do ego

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A questão da psicologização do Cristianismo ou da Teologia tem sido um tema muito discutido nos últimos tempos por aqueles que creem na Suficiência das Escrituras e no poder de Deus para tratar e curar as feridas da alma do ser humano, com ênfase nos salvos em e por Cristo.
Este artigo trata de algumas questões neste sentido.
Boa leitura e reflexão.
A "teologia" da autoestima e o "evangelho" do ego
1. A gênese da autoestima
O movimento da autoestima tem seus fundamentos mais recentes na psicologia clínica; isto é, nas teorias da personalidade elaboradas por Wiliam James, Alfred Adler, Erich Fromm, Abraham Maslow e Carl Rogers, cujos seguidores popularizaram o movimento. Contudo, as raízes do movimento da autoestima retrocedem aos primórdios da história humana.
Tudo começou no terceiro capítulo de Gênesis. Inicialmente, Adão e Eva tinham consciência de Deus, consciência um do outro, das coisas à sua volta e não de si próprios. A percepção de si mesmos era incidental e secundária na sua focalização em Deus e um no outro. Adão compreendia que Eva era osso dos seus ossos e carne de sua carne (Cf. Gn 2.23), mas não estava consciente de si do mesmo modo que seus descendentes seriam. O ego não era problema até a queda.
Comer da árvore do conhecimento do bem e do mal não trouxe a sabedoria divina. Resultou, sim, em culpa, medo e separação de Deus. Assim, quando Adão e Eva ouviram que Deus se aproximava, esconderam-se entre as árvores. Mas Deus os viu e perguntou: “Quem te fez saber que estavas nu? Comeste da árvore de que te ordenei que não comesses?” (Gn 3.11).

2. O ego pecaminoso
Adão e Eva responderam dando-nos o primeiro exemplo de autojustificação. Primeiro, Adão culpou Eva e Deus, e, então, Eva culpou a serpente. O fruto do conhecimento do bem e do mal gerou o ego pecaminoso representado pelo amor-próprio, autoestima, autoaceitação, autojustificação, hipocrisia, autorrealização, autodifamação, autopiedade e outras formas de autofocalização e egocentrismo.
Desse modo, o atual movimento da auto-etc. tem suas raízes no pecado de Adão e Eva. Através dos séculos, a humanidade continua se deleitando na árvore do conhecimento do bem e do mal, que tem disseminado seus ramos do saber mundano, incluindo as vãs filosofias humanas e, mais recentemente, as filosofias “científicas” e a metafísica da psicologia moderna.
As fórmulas religiosas do valor-próprio, do amor-próprio e da autoaceitação escorrem do tubo da televisão, fluem pelas ondas do rádio e seduzem pela publicidade. Do berço ao túmulo, os defensores do ego prometem a cura de todos os males da sociedade por meio de doses de autoestima, valor-próprio, autoaceitação e amor-próprio. E todo mundo, ou quase todos, repete o refrão: “Você só precisa amar e aceitar a si próprio como você é. Você precisa se perdoar”. E: “Eu só tenho de aceitar-me como sou. Eu mereço. Eu sou uma pessoa digna de amor, de valorização, de perdão”.

3. A resposta cristã para o mundo
Como o cristão deve combater o pensamento do mundo, que exalta o ego e o coloca no centro como a essência da vida? Como o cristão deve ser fiel à ordem de nosso Senhor, de estar no mundo, mas não ser do mundo? Ele pode adotar e adaptar-se à filosofia/psicologia popular de sua cultura ou deve manter-se como quem foi separado por Deus e encarar sua cultura à luz da Palavra? Jesus disse: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma. Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve” (Mt 11.28-30).
Este é um convite para deixarmos o nosso próprio caminho, submetendo-nos a um jugo de humildade e servidão – com ênfase no jugo – num relacionamento de aprendizado e vida. Jesus fez seu convite ao discipulado com palavras diferentes, mas para o mesmo relacionamento e o mesmo objetivo, quando disse: “Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me. Porquanto, quem quiser salvar a sua vida perdê-la-á; e quem perder a vida por minha causa achá-la-á” (Mt 16.24,25).

4. Nenhum mandamento para amar a si próprio
Jesus não nos ordena que amemos a nós mesmos, mas que amemos a Deus e ao próximo. A Bíblia apresenta uma base para o amor completamente diferente daquilo que a psicologia humanista anuncia. Ao invés de promover o amor-próprio como a base para amarmos os outros, a Bíblia diz que o amor de Deus é a fonte verdadeira. O amor humano é misturado com o amor-próprio e, em última análise, pode estar em busca de seus próprios interesses. Mas, o amor de Deus entrega a si mesmo. Portanto, quando Jesus convida seus discípulos a negarem a si próprios e a tomarem sobre si o seu jugo e a sua cruz, Ele os conclama a um amor que doa a si mesmo, não a um amor que satisfaz a si mesmo. Até o advento da psicologia humanista e de sua intensa influência na igreja, os cristãos, geralmente, consideravam a autoestima como uma atitude pecaminosa.
Apesar de a Bíblia não ensinar o amor-próprio, a autoestima, o valor-próprio ou a autorrealização como virtudes, recursos ou objetivos, um grande número de cristãos de hoje tem sido enganado pelos ensinos pró-ego da psicologia humanista. Ao invés de resistirem à sedução do mundo, eles se submetem à cultura do mundo. Eles não resistem somente à gigantesca onda do egocentrismo, como, também, estão na crista da onda da autoestima, da autoaceitação e do amor-próprio. Na área do ego, dificilmente se pode perceber a diferença entre o cristão e o não cristão, exceto que o cristão afirma ser Deus a fonte principal de sua autoestima, autoaceitação, autovalorização e amor-próprio.
Por meio de slogans, bordões e textos bíblicos deturpados, muitos crentes professos seguem a onda existencial da psicologia humanista e estabelecem seu próprio sistema motivacional. Desse modo, qualquer crítica contra os ensinamentos do valor-próprio, do amor-próprio e da autoestima é considerada, por isso mesmo, como prova de que se deseja que as pessoas sejam infelizes. Além do mais, qualquer crítica contra o movimento da autoestima é vista como um perigo para a sociedade, já que a autoestima é considerada como panaceia para seus males. Então, se alguém, na igreja, não apoia completamente a teologia da autoestima, é acusado de promover uma teologia desprezível.

5. Um convite para deixarmos o nosso próprio caminho
Se há algo que o mundo e muitos na igreja têm em comum nos dias atuais é a psicologia da autoestima. Embora cristãos professos possam discordar em algumas das nuanças da autoestima, da autovalorização, da autoaceitação e mesmo em alguns dos pontos mais delicados de suas definições e de como elas são alcançadas, muitos têm reunido forças contra o que acreditam ser um inimigo terrível – a baixa autoestima. Contudo, mesmo o mundo ainda não consegue justificar o incentivo da alta autoestima pelos seus próprios métodos de pesquisa.
As pesquisas não apresentam justificativas em favor da autoestima. Há alguns anos, o legislativo da Califórnia aprovou o projeto de criação da “Força-tarefa californiana para desenvolver a autoestima e a responsabilidade social e pessoal”. O legislativo reservou para o projeto 245 mil dólares ao ano durante três anos, num total de 735 mil dólares. O duplo título da força-tarefa foi realmente muito pretensioso. Ninguém nunca conseguiu demonstrar que o estímulo à autoestima está, de algum modo, ligado com a responsabilidade social e pessoal. Nem se provou que todos aqueles que demonstram responsabilidade social e pessoal possuem autoestima elevada. Na verdade, a autoestima e a responsabilidade social e pessoal têm relação negativa e não positiva.
A declaração do objetivo da força-tarefa foi a seguinte: “Procurar determinar se a autoestima e a responsabilidade social e pessoal são as chaves para descobrir os segredos do desenvolvimento humano sadio, de modo que consigamos atingir as causas e desenvolver soluções eficazes para os principais problemas sociais, fornecendo a cada californiano as mais recentes experiências e práticas quanto à importância da autoestima e da responsabilidade social e pessoal”.
A força-tarefa acreditava que apreciar a si mesmo e fortalecer a autoestima reduziria “dramaticamente os níveis epidêmicos dos problemas sociais que enfrentamos atualmente”. Com o objetivo de pesquisar esta relação, a força-tarefa estadual contratou oito professores da Universidade da Califórnia para examinar a pesquisa sobre a autoestima e sua relação com as seis áreas seguintes:

Crime, violência e reincidência
Abuso de drogas e álcool
Dependência da Previdência Social
Gravidez na adolescência
Abusos sofridos por crianças e esposas
Deficiência infantil no aprendizado escolar

Sete dos professores pesquisaram essas áreas e o oitavo resumiu os resultados, que foram publicados num livro intitulado The Social Importance of Self-Esteem [A importância social da autoestima]. Essa pesquisa confirmou a relação entre a autoestima e os problemas sociais?
David L. Kirk, colunista do jornal San Francisco Examiner, disse, rudemente: “Esse […] volume erudito, The Social Importance of Self-Esteem, resume todas as pesquisas sobre o assunto numa ridícula abordagem maçante de cientistas pretensiosos. Economize seus 40 dólares que o livro custa e conclua: há pouquíssima evidência de que a autoestima seja a causa de nossos males sociais”.
Mesmo tendo procurado uma conexão entre a baixa autoestima e o comportamento problemático, eles não puderam encontrar uma relação de causa e efeito. Contudo, estudos mais recentes indicam uma clara relação entre o comportamento violento e a alta autoestima. Apesar disso, a fé na autoestima não morre e as escolas continuam trabalhando para elevar a autoestima.
Pior do que a continuação nos ensinamentos da autoestima no mundo é a confiança que cristãos professos continuam depositando nos ensinamentos da autovalorização e do amor a si próprios. Assim, o movimento secular da autoestima não é um ataque frontal contra a Bíblia com linhas de batalha claramente demarcadas. Ao invés disso, é habilidosamente subversivo, e, realmente, não é obra de carne e sangue, mas dos principados e potestades, dos dominadores deste mundo tenebroso, das forças espirituais do mal nas regiões celestes, como Paulo diz em Efésios 6.12. Lamentável é que muitos cristãos não estão alerta para os perigos. Muitos mais do que podemos enumerar estão sendo sutilmente enganados por outro evangelho: o evangelho do ego.

6. O amor bíblico
Jesus convida os seus seguidores a um relacionamento de amor com Ele e de um para com o outro. A alegria dos seus seguidores deve ser encontrada nele (em Jesus) e não em si mesmos. O amor vem de seu amor por eles. Assim, o amor deles, de um para o outro, não vem do amor-próprio e da autoestima, tampouco aumenta a autoestima. A ênfase está na comunhão, na frutificação e na prontidão para ser rejeitado pelo mundo. A identificação do crente está em Jesus, a ponto de sofrer e segui-lo até a cruz. Somente pela semântica forçada, da lógica violentada e da exegese ultrajada alguém pode querer demonstrar que a autoestima é bíblica ou mesmo parte da tradição ou do ensino da igreja.
O foco do amor na Bíblia é para cima e para fora e não para dentro. O amor é tanto uma atitude como uma ação de uma pessoa para com a outra. Embora o amor possa incluir sentimentos e emoções, é essencialmente uma ação determinada pela vontade para a glória de Deus e para o bem dos outros. Assim, quando Jesus disse: “Amarás, pois o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e de toda a tua força” (Mc 12.30), Ele quis explicar que todo o nosso ser deve estar comprometido para amar e, portanto, agradar a Deus. O amor a Deus é expresso com um coração agradecido e determinado a fazer o que agrada a Ele de acordo com o que está revelado na Bíblia. Não se trata de um tipo de obediência mecânica, mas de um desejo para conformar-se à sua graciosa vontade e de concordar que Deus é a fonte e o padrão para tudo que é certo e bom.
A segunda ordem é uma extensão ou expressão da primeira: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mc 12.31). João acrescentou detalhes a respeito. Ele descreveu a sequência do amor. Em contraste com os mestres do amor-próprio, que dizem que as pessoas não podem amar a Deus e aos outros até que amem a si mesmas, João diz que o amor começa em Deus e, então, se estende aos outros: “Nós amamos porque ele nos amou primeiro. Se alguém disser: Amo a Deus, e odiar a seu irmão, é mentiroso; pois aquele que não ama a seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê. Ora, temos, da parte dele, este mandamento: que aquele que ama a Deus ame também a seu irmão” (1Jo 4.19-21).
Desde o primeiro fôlego de Adão, os homens foram destinados a viver em relacionamento com Deus e não como egos autônomos. A Bíblia inteira está apoiada nesse relacionamento, porque, após responder ao fariseu, afirmando que o grande mandamento é amar a Deus e o segundo é amar ao próximo como a si mesmo, Jesus acrescentou: “Destes dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas” (Mt 22.40).
Jesus veio para nos livrar do ego e para restabelecer esse relacionamento de amor para o qual fomos criados. Durante séculos, foram escritos livros sobre amar a Deus e uns aos outros. Contudo, atualmente, cada vez mais, a igreja está sendo inundada por literatura ensinando-nos como nos amarmos melhor, nos estimarmos mais, nos aceitarmos como somos e desenvolvermos o nosso próprio valor.

Triste caminho longe de Deus.
Voltemos ao Bom caminho das Escrituras.

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