Pela relevância do
tema, preciso antes de analisá-lo, lembrar o contexto e a realidade de
desconfiança e incredulidade que se encontra a Igreja Cristã em nossos dias.
Em primeiro lugar, hoje observamos que as
pessoas, mesmos as cristãs, já não acreditam na eficácia e eficiência da Igreja
como uma organização abençoadora e participante dos propósitos de Deus neste
mundo. Antes, a consideram “falida” e ineficaz para propagar a Palavra de Deus
e para cuidar de vidas. Basta uma rápida pesquisa nas redes sociais e veremos "cristãos" atacando a organização Igreja e questionando sua credibilidade e razão de existir.
Por que isso ocorreu? O
que levou as pessoas a pensarem desta forma?
Bem, são várias as
respostas para estas questões, mas a que considero mais chocante é que a
maioria dos cristãos perdeu a confiança em seus pastores e líderes, e não os
consideram mais um “padrão” (exemplo) para os fiéis. Essa desconfiança fez com
que não os respeitassem mais e não os considerassem como conselheiros e guias
adequados para ajudá-los em seus dilemas e problemas diários. Muitos e já está se tornando maioria, preferem buscar ajuda em psicólogos, filósofos e "gurus" da internet do que se aconselhar com o seu pastores ou pastores de uma forma geral.
E como os pastores e
líderes perderam a confiança do rebanho de Cristo?
A resposta é que
simplesmente não fizeram, não praticaram em suas vidas, o que ensinavam e
pregavam aos demais irmãos. Foram incoerentes e inconsequentes, e mais, foram
infiéis ao que nos ensinam as Escrituras. Negaram com suas ações tudo aquilo
que a vida inteira afirmaram ser a verdade bíblica, a verdade de Deus para a
Igreja.
Uma destas incoerências
se deu e se dá pelo crescente número de pastores e ministros evangélicos que se separam
e se divorciam de suas esposas e se casam com outra.
O divórcio e o
adultério invadiram a igreja, enquanto os cristãos e mais especificamente os cristãos que exercem o pastorado, demonstraram pouco ou nenhum interesse para com esta contaminação, mais e mais
ministros entraram para o sistema mundano do “casa-separa-casa-separa”, criando
uma atmosfera de epidemia na igreja. A racionalização reinou suprema em
detrimento da Palavra de Deus.
Em segundo lugar, esta minha argumentação e exposição do tema não se referem ao perdão de Deus quando há arrependimento, ou seja, Deus perdoa sim o pastor que pecou, se arrependeu e abandonou o pecado. Todavia, o que trato aqui é que se mesmo perdoado, este cristão pode prosseguir exercendo o pastorado em toda sua amplitude ou se, biblicamente, já não cumpre os requisitos e exigências determinadas por Deus para este trabalho, ofício e vocação. Este é o cerne deste artigo e não o perdão de Deus, que sei, pode ocorrer com os arrependidos.
Com estes esclarecimentos iniciais, entramos
propriamente no assunto e questão principal deste artigo, ou seja, podem, biblicamente, pastores e ministros divorciados prosseguirem pastoreando e liderando o povo de Deus após
terem essas atitudes e postura?
Adiantando a respostam serei rápido e
simples: NÃO !
E porque digo isso?
Porque a Bíblia os considera repreensíveis para o ministério pastoral.
A seguir demonstro
biblicamente, porque afirmo isso, enumerando algumas razões que impedem um
pastor de continuar com seu ministério após se separar, se divorciar de sua
esposa:
1ª RAZÃO: Porque Ele passa a NÃO
ser um exemplo dos fiéis.
Em I Tim. 4:12, Paulo
exorta ao pastor Timóteo para que seja “…o padrão (exemplo) dos fiéis…” O homem
que está no segundo, ou até no terceiro casamento, não pode ser exemplo dos
fiéis, por não ser esta a vontade de Deus para o seu povo: Ele odeia o divórcio
(Mal. 2:16). Os jovens de tal igreja estariam automaticamente, levantando a
possibilidade de os seus futuros casamentos, se não derem certo “como o do
pastor”, o divórcio seria uma opção e ainda Deus os estaria ainda abençoando
após algumas “tribulações…” Desastroso exemplo seria também para os que
entrarão ou já estão no ministério pastoral. O Cristianismo verdadeiro não
segue o lema de “faça o que eu digo mas não faça o que eu faço”. Paulo disse
“sede meus imitadores como eu sou de Cristo” (I Cor. 3:15). O ministério
pastoral não é para qualquer um, mas para os que tem condições morais e bíblicas de ser exemplo (Heb. 13:7).
2ª RAZÃO: Porque ele
NÃO é mais irrepreensível.
Em I Tim. 3:2 temos as
qualificações para o pastor: “Convém, pois, que o bispo seja irrepreensível…” A
palavra traduzida por irrepreensível usada no texto acima é do grego
“anepleptos”. Ela aparece três vezes no Novo Testamento, a saber: I Tim. 3:2, 5:7
e 6:14. O significado é sempre o de alguém de quem não se pode falar nada
contra, sem mancha, sem culpa, inacusável. Independente de ser ou não o
causador do divórcio (se é que existe tal condição), o homem que passou por
esta experiência não se encaixa nas exigências bíblicas, e será usado pelo
diabo para escandalizar e envergonhar o Evangelho. Existe “pastor” que se casou
em rebeldia contra os conselhos dos pais, de amigos e até de seus pastores
atraindo as maldições do Senhor. Tal flagrante violação da vontade de Deus,
tornou tal crente o único responsável pela falência do seu próprio casamento,
desqualificando-o de uma vez por todas, para o exercício do pastorado.
3ª RAZÃO: Ele Não é
mais marido de UMA SÓ mulher.
“Convém, pois, que o
bispo seja irrepreensível, marido de uma mulher…” (I Tim. 3:2). A expressão
“marido de uma mulher” significa muito mais do que o leitor superficial possa
imaginar e não é como alguns afirmam equivocadamente “uma esposa de cada vez”.
Ora, isso seria um convite e uma motivação para vários casamentos, e não penso
que a Palavra de Deus concorda com esta teoria. O ensino é que a mulher com
quem o bispo, pastor é casado é a sua primeira e única! Não tem vínculo algum com
a condenação de relacionamentos simultâneos, o que seria adultério. Entretanto,
existe uma linha de interpretação aqui defendida por muitos, que situa esta
orientação baseado numa suposta condenação da poligamia. Penso que seria um
absurdo tão redundante e flagrante o pecado da poligamia que Paulo não
precisaria se referir a ela para uma pessoa especial como o "bispo". O que
realmente está em jogo aqui é a conduta ilibada e irrepreensível do pastor no
seu relacionamento singular com a sua primeira e única esposa. Em algumas versões bíblicas,
o texto fica ainda mais claro e aparece assim: É preciso, porém, que o
dirigente seja irrepreensível, esposo de uma única mulher… ou ainda, diz: É,
porém, necessário que o inspetor seja irrepreensível, que não tenha sido casado
senão uma vez…
Veja o verso afim em I
Tim. 5:9. “…e só a que tenha sido mulher de um só marido.” É óbvio que a viúva
a que Paulo se refere, só poderia receber auxílio da igreja se tivesse vivido
com um só homem. Por estar ele morto não haveria outro. Esta é a mesma
construção gramatical que se refere a situação do pastor, apenas invertendo-se
os substantivos. A ênfase em I Tim. 3:1 sobre a vida conjugal do pastor é tão
flagrante, que a mesma palavra que é usada para expressar a unicidade da mulher
da sua vida, é usada também em todas as vezes no Novo Testamento para expressar
que marido e mulher se tornam uma só carne. O homem que se divorcia e se casa
com outra mulher não reverte o se tornar uma só carne com a primeira Portanto, ele não é mais marido de uma só mulher nem na singularidade nem na ordem
numeral. Se voltasse para a primeira mulher cessaria o adultério, mas a
desqualificação está selada para sempre.
4ª RAZÃO: Ele Não tem
mais autoridade para orientar ou aconselhar.
Certo pastor, que
estava no segundo casamento, teve a audácia de, ao pregar numa determinada
igreja, mencionar a sua indignação ao se deparar com colegas que estavam no
segundo casamento… Tal falta de honestidade e coerência nos faz lembrar a
advertência do Mestre que disse “Ou como dirás ao teu irmão: Deixa-me tirar o
argueiro do teu olho; estando uma trave no teu” (Mat. 7:5). O divorciado não
pode pregar numa igreja como pastor, muito menos aconselhar os casais crentes
sobre família, porque a sua não é mais exemplo. Se tentar aconselhar estará
sendo hipócrita, se não aconselhar estará sendo omisso e com o ministério
mutilado.
Como um pastor
divorciado poderá aconselhar um casal que está com problemas no casamento? Com
que autoridade ele dirá para lutarem pelo seu casamento, para se perdoarem e
buscarem a reconciliação se ele mesmo não conseguiu fazer isso? Como esse
pastor aconselhará um jovem casal prestes a se casar orientando-os que o
casamento é um compromisso até a morte se ele mesmo não cumpriu isso?
Não tem jeito e muito menos justificativas, o
Cristianismo não funciona segundo palavras vazias, mas com exemplo de vida.
Mesmo que o homem não tenha se casado novamente, a situação de separação da
primeira esposa já o desqualifica para o pastorado, pois não conseguiu, falhou,
fracassou em “governar sua própria casa”.
5ª RAZÃO: Ele contradiz
a própria Palavra que prega, por exercer, em rebeldia, uma posição para a qual
Deus não o permite mais.
Quando o pastor sobe ao
púlpito para pregar, ele não pode expressar as suas opiniões. Ele tem que
entregar uma mensagem que não é a sua. Ele tem que pregar a Palavra de Deus em
obediência a Cristo. Se o pregador está em rebeldia no seu viver, ele está
desqualificado para pregar. Suas palavras são vazias e sem poder. Não importa o
que a igreja pense, o tamanho da congregação, ou quantas conversões acontecem:
o seu líder nessas condições está sem a bênção do Senhor, não importando os
“sinais externos”: os resultados não autenticam a fonte (I Cor. 3:13-15).
A verdade é que ele
seria um desastre espiritual a médio e longo prazo para a Igreja que o aceitar.
Não se pode colocar o pecado em compartimentos ou escondê-lo "embaixo do tapete". Quando ele entra na igreja sob
a forma de omissão e rebeldia contra a Palavra de Deus, qual fermento se
espalha para vários outros setores. Com o pecado não se brinca. A tendência do
homem é o pecado, principalmente na área de família e sexo. Na igreja isto
também se verifica. Se a liderança não tem os padrões de Deus, a degeneração
dos crentes é certa. Os líderes cristãos não podem ser egoístas, buscando seus
interesses a curto prazo, nem status de liderança para encobrir pecados
pessoais.
Se os padrões são
decadentes, pode-se esperar que os crentes que se desenvolveram dentro do
ambiente de tolerância com o pecado serão cada vez mais decadentes, frios e
finalmente apóstatas. Veja as advertências do Senhor às 7 igrejas do
Apocalipse. A igreja local também não deve aceitar um pastor divorciado. Eles
estariam em rebeldia contra a Palavra de Deus, independente do número de votos
que homologou a aceitação. Os crentes sérios que porventura pertençam a tal
igreja deveriam imediatamente se retirar dela, recusando submeter-se a um líder
desqualificado e não aprovado por Deus. O voto da maioria nesse caso não opera
a vontade de Deus (Ex.23:2).
Há diversos casos de
pastores que, apesar de terem o chamado de Deus para o ministério, tiveram a
dignidade e a nobreza de abandoná-lo após se desqualificarem devido ao
divórcio, separação ou conduta. Quando alguém insiste em permanecer no
ministério nessas condições está desonrando a Deus e a esses homens dignos que
entenderam que não era mais a vontade de Deus a sua liderança sobre o Seu povo.
Quando alguém assim permanece no ministério, na verdade está se julgando muito
importante e indispensável para o trabalho de Deus (Luc. 17:10).
6ª RAZÃO: Ele destruiu
o modelo de compromisso indissolúvel entre Cristo e sua Igreja.
O relacionamento eterno
entre Cristo e os salvos, é comparado com o do marido e esposa cujo compromisso
não é para ser quebrado (Efésios 5:22-33). Cristo sempre teve a Sua Igreja no
mundo, e em certos períodos, sobraram apenas poucos, que foram perseguidos,
traídos, torturados, sepultados nas celas das masmorras, martirizados por sua
fé, ou obrigados a fugir para a fortaleza das montanhas e para as covas e
cavernas da Terra, mas continuaram guardando os mandamentos de Seu Pai.
7ª RAZÃO: Ele Não pode
celebrar casamentos: “Até que a morte os separe” (Rom. 7:2-4, I Cor. 7:39)
Como pode um pastor
proferir os votos conjugais para um casal de noivos, se ele mesmo não cumpriu
na sua vida? Ou teremos que mudar os votos matrimoniais para: até que o
divórcio os separe?
8ª RAZÃO: Ele está
contribuindo para a degeneração dos padrões familiares.
Se pastores, tendo suas
famílias dentro dos padrões bíblicos, já sofrem com a desintegração de várias
famílias dos membros, imagine se do púlpito veem o péssimo exemplo do fracasso
conjugal. Nesse caso os fundamentos da família estão abalados para as gerações
seguintes (Sal. 11:3).
O divórcio é uma ameaça
para a família cristã. As suas consequências são devastadoras para a família.
Por esse motivo “… o Senhor Deus de Israel diz que aborrece o repúdio…” (Mal.
2:16). O homem que foi chamado para anunciar a Palavra de Deus como pastor não
pode ser divorciado, muito menos casado pela segunda vez. Se alguém está nessa
triste situação deve ter a humildade suficiente de abandonar o ministério
urgentemente para não causar mais prejuízos ao testemunho do Evangelho e
procurar exercer os seus dons fora da liderança da igreja, pois o seu chamado
acabou tão logo tenha ocorrido a desqualificação.
Considerações Finais.
Para os crentes que
desfrutam a bênção de ter o seu casamento dentro da vontade de Deus, fica o
alerta para, humildemente, reconhecer a Graça do Senhor (I Cor. 10:12) e buscar
em fervente oração, forças e discernimento para combater as armadilhas do
maligno para a destruição da família.
O pecado sexual
geralmente se faz acompanhar de outros. Ao se divorciar (cometendo adultério ou
não), uma pessoa quebra pelo menos cinco princípios bíblicos: Coloca o desejo
pessoal acima de Deus, rouba, cobiça, dá falso testemunho e quebra a aliança:
“até que a morte os separe”, ou o “que Deus uniu, não separe o homem”.
Em razão da vergonha
decorrente do pecado sexual, há a forte tendência de cometer pecados para
encobri-lo. Se alguém tivesse dito ao rei Davi que embebedaria um homem e
depois o mataria, ele não acreditaria. O pecado sexual, porém, o tornou
mentiroso, ladrão e assassino.”
Penso sinceramente que
pastores que se divorciaram não precisam e não devem estar pastoreando, eles
precisam sim é de ajuda, pois estão fragilizados e necessitados de atenção e
amor da irmandade. Mas, essa ajuda não pode ser exercida em sua integralidade
se teimarem em prosseguir pastoreando. Precisam, reconhecer que fracassaram e
que precisam continuar agora servindo a Deus de outra forma e em outras áreas.
Essa é a verdade, uma triste verdade, mas a pura verdade.
Portanto e finalmente,
afirmo sem medo de errar que um pastor que cai em adultério, ou que se divorcia
por quaisquer razões, casando ou não novamente, pode e deve ser restaurado no
Corpo de Cristo, o perdão de Deus também alcança pastores, mas para o
ministério pastoral se tornou reprovado!
Pr. Prof. Magdiel Anselmo.
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