domingo, 14 de janeiro de 2018

O Bom Pastor e o bom pastor

“(...) Ele me faz repousar em pastos verdejantes...” 
Salmo 23:2

Estava meditando na Palavra de Deus e me deparei com esta expressão do salmista que tantas vezes já li e até memorizei juntamente com o restante do salmo. Mas, dessa vez tive que parar neste ponto e refletir sobre o que realmente o texto está afirmando (O Espírito Santo faz isso conosco).
A Bíblia é a Palavra de Deus e em toda ela encontramos orientações para nossa vida. Em cada frase, observação, termo... Existe um sentido mais amplo e a descobrir. Por obra do Espírito Santo, podemos entender a Revelação. Deus nos ilumina para esse entendimento do que nos revelou. Esse mistério divino é que faz da Bíblia um instrumento poderoso e transformador.
O texto bíblico em questão nos revela como o Supremo Pastor cuida do Seu rebanho e deve nos ensinar como devemos também pastorear este mesmo rebanho que não é nosso, é Dele.
O Espírito Santo me fez refletir em como estou tratando as ovelhas do Senhor e que por permissão Dele pastoreio. Será que estou levando-as a pastos verdejantes? Será que elas podem repousar tranquilamente sabendo que podem confiar em seu pastor?
Dessa forma, o texto nos encaminha para entender que o Pastor não força ou obriga as ovelhas serem submissas e se deitarem. Ele sabe o que o rebanho precisa para estar tranqüilo, relaxar e se deitar.
Por isso, ele cria o ambiente propício para que as ovelhas se deitem.
É interessante perceber que as ovelhas não se deitarão se estiverem com medo. Não se deitarão se houver atrito ou tumulto no meio do rebanho. Não se deitarão se estiverem com fome ou sede. Não se deitarão quando se acham atormentadas por moscas ou parasitas.
O pastor deve saber e entender as necessidades e limitações do rebanho. Tem de reconhecer as estratégias do inimigo e prover uma defesa para a congregação. É ele o responsável por preservar a harmonia dentro da congregação. Seu dever como ministro de Deus é fornecer uma dieta de ensinamentos adequados para manter a congregação forte e saudável.
Quando o Senhor Jesus viu a multidão “teve grande compaixão deles, porque andavam desgarrados e errantes como ovelhas sem pastor” (Mat. 9:36).
Os membros da congregação que sejam indefesos ou tenham sido hostilizados têm de encontrar compaixão no pastor. Suas situações difíceis não devem ser tratadas com indiferença ou falta de preocupação.
Eu sei que proteger as ovelhas pode custar caro ao pastor. O que separa os bons pastores dos irresponsáveis é a maneira como reagem quando o rebanho está sob ameaça. O bom pastor é abnegado e, correndo grande perigo pessoal, protegerá e defenderá o rebanho, chegando até ao ponto de entregar a própria vida. Tal coragem é o resultado de um relacionamento incomparável entre o pastor e a ovelha.
Sei, pela experiência e convivência com outros pastores, que depois de passar tanto tempo com os membros da congregação, o pastor estima cada um individualmente. Em cada um ele tem um investimento de oração, de ensino, de pregação, de aconselhamento e de apoio. Isso o faz alegrar-se com as vitórias e chorar na derrotas de cada membro em particular.
Esse extraordinário valor individual da ovelha é ilustrado na narrativa do Senhor Jesus, do pastor que deixa as 99 ovelhas para buscar uma única ovelha perdida (Mat. 18:12).
Quando se pesquisa o comportamento de uma ovelha literalmente, percebe-se que quando uma se perde ou se afasta do restante do rebanho, ela não consegue retornar. Fica parada balindo por socorro. Uma ovelha ou cordeiro nessa situação é presa fácil de um predador. São vulneráveis, ficam amedrontadas e perdidas. Sua volta ao aconchego e proteção do rebanho muitas vezes depende do valor que o pastor lhes dá e até onde ele está disposto a ir para buscá-la.
Aí se encontra a diferença de um bom pastor de ovelhas e o pastor mercenário. Os mercenários não têm nenhum interesse pessoal no bem-estar do rebanho. Servem pelo salário e ganho pessoal. A proteção, o crescimento e o conforto do rebanho são preocupações incidentais para eles. Fazem tudo que é exigido e necessário somente para receber pagamento, exceto quando o custo pessoal é grande demais. Fogem quando a responsabilidade fica muito elevada. Sacrificarão um ou mais cordeiros para se salvar.
É certo que todo bom pastor sabe que o inimigo atacará as ovelhas. O pastor que tem comunhão com o Bom Pastor verá o agressor se aproximando. Neste ponto é freqüente as ovelhas não perceberem o perigo. Quando perceberem, já é tarde demais. O pastor que ama a congregação não apenas avisará do ataque do inimigo, mas ficará para defendê-la durante e enquanto prosseguir esse ataque.

“Leva-me para junto das águas de descanso...”
Salmo 23:2

Na analogia do pastor de ovelhas, sabe-se que a ovelha quando com sede põem-se em debandada em direção à água. Mas água poluída ou contaminada pode ser fatal às ovelhas.
Ás vezes é necessário o pastor conduzir o rebanho sedento por um caminho mais extenso, a fim de evitar o risco das ovelhas correrem em disparada para uma lagoa poluída com águas que as levarão a morte.
Congregações com sede são mais susceptíveis ao engodo de águas poluídas. A última novidade doutrinária ou o último modismo eclesiástico são atrativos tentadores a uma congregação sedenta.
É responsabilidade do pastor saber do estado da água das redondezas do rebanho. O pastor tem de conhecer as armadilhas doutrinárias que cercam a congregação. Tem de conduzir o rebanho para longe delas. É trabalho tedioso. Requer estudo, preparo e um firme comprometimento com as Escrituras e um sólido apego à Teologia Bíblica.
Antigamente, mesmo nos tempos bíblicos do AT, os pastores de ovelhas cavavam poços em regiões áridas ou em lugares onde não houvesse água. Faziam isso antecipando as necessidades do rebanho. Era algo que as ovelhas não podiam fazer por si mesmas.
O trabalho tedioso da preparação do sermão é algo semelhante. O pastor antecipa as necessidades dos membros da congregação e faz o que não podem fazer. Ele cava na verdade da Palavra de Deus e disponibiliza água fresca para as ovelhas.
Desta forma, protege as ovelhas dos ataques futuros. Sacia a sede e provê descanso através da Palavra.
Sendo assim, os pastores seguem o exemplo e orientação do Senhor dos pastores.
Sendo assim, as ovelhas podem se alimentar tranqüilas nos pastos verdejantes, saciar sua sede em águas cristalinas, sabendo que estão sendo protegidas e bem cuidadas.
Elas podem, afinal, repousar...


Pr. Magdiel G Anselmo.

PASTORADO – UMA VOCAÇÃO OU MAIS UMA PROFISSÃO?


A questão é um tanto complicada de se abordar. 
A falta de envolvimento pessoal e conhecimento dos que comentam sobre esta questão determinam, a meu ver, a realidade dos fatos. Uma realidade de muita confusão quando se discute o assunto proposto. Cada grupo ou denominação religiosa entende do seu jeito e criam o seu formato, tornando o entendimento correto e bíblico mais uma opinião ou argumentação como as demais. 
O que significa ser um pastor, quais os critérios, características e a missão pastoral de acordo com que revela a Palavra de Deus são totalmente negligenciados e toma-se um conceito humano e empresarial para explicar o ofício e as funções de um pastor.
Isso causa muitos conflitos e perturbações à vida da Igreja e por fim incentivam oportunistas, interesseiros e preguiçosos a se candidatarem a futuros ministros.
Não deveria ser assim.
Mas por que isso acontece?
Porque pouco ou nada se ensina sobre o assunto. O pastor ou o educador cristão tem, muitas vezes, receio de ministrar e até falar sobre o que significa ser um pastor do ponto de vista bíblico, porque pensa que estará ministrando em interesse ou defesa própria. E assim, o povo fica sem entender a questão e aí se originam os erros e as distorções existentes.
Por causa também disso, o universo evangélico criou vários tipos de pastores. Vejam alguns deles a seguir:



1. O pastor de “final de semana e feriados”.
Este entende o pastorado como um trabalho complementar e secundário. Somente o exerce quando não realiza outra atividade. Durante a semana possui um emprego e trata de se dedicar a ele e a seus afazeres pessoais. Quando chega o final de semana ou feriado se veste de pastor e vai à igreja pregar e rever seus irmãos. Durante o meio de semana não se pode contar com ele. Estou trabalhando, afirma. Quando perguntam como sustenta a família, ele diz orgulhosamente:
- Tenho o meu trabalho. Não toco em um centavo do dinheiro da igreja.
E isso vai sendo ensinado à congregação que “pastoreia”.

2. O pastor “nominal”.
Este entende o pastorado como uma forma de ostentação. Ama ostentar seu título de pastor nos círculos familiares, eclesiásticos e de relacionamentos. Não se preocupa com o rebanho do Senhor e muito menos com o que pensa o Senhor do rebanho. Está sempre buscando outros e mais títulos, porém sempre com a motivação errada. Ele quer ser destacado entre os demais. O nome de Jesus é só mais um detalhe. O nome dele é que importa ser notado e comentado.
Muitos destes “pastores” se tornam em outro tipo que chamo de “midiáticos”, ou seja, usam a mídia (televisão, rádio, TV a cabo, etc...) para propagar suas devaneios com roupagem de cristianismo com intenções de adquirir fama e prosperidade material às custas do povo desavisado.
E isso vai sendo ensinado à congregação que “pastoreia”.

3. O pastor “profissional”
Este entende o ministério pastoral como mais uma profissão e a Igreja de Cristo como mais uma empresa. Cumpre com suas obrigações trabalhistas, que foram pré-determinadas em sua contratação, e está tranquilamente consciente que pode ser dispensado por seus empregadores se não as cumpri-las. Busca agradar seus “chefes” fazendo aquilo que os agrada, porque se não o fizer pode ficar desempregado.
É um profissional do púlpito. É um político eclesiástico.
E isso vai sendo ensinado à congregação que “pastoreia”.

4. O pastor “falso”.
Este não foi chamado para ser pastor. Não possui vocação e por isso não consegue amar o rebanho como deveria. Pode até ser um bom crente, porém não tem ferramentas espirituais para pastorear e teima em prosseguir. Não deseja se aprofundar no conhecimento bíblico, não deseja se sacrificar em prol do reino de Deus. Não se preparou para o ofício pastoral porque não entende isso ser relevante.
Não possui coração de pastor.
Causa dores e sofrimentos em si e no rebanho. Produz maus costumes e heresias. É motivo de piadas e “chacotas” dos descrentes e até de membros de sua congregação.
E isso vai sendo ensinado à congregação que “pastoreia”.

5. O pastor “enviado de satanás”.
Este entende o que significa o ministério pastoral e por isso, diabolicamente, procura perverte-lo e corrompe-lo diante dos olhos apavorados do povo. Desta forma, tenta produzir falta de credibilidade sobre o ofício e a pessoa dos demais pastores. A desconfiança e incredulidade ao pastorado são suas intenções.
São enviados de satanás para iludir e enganar o povo de Deus e assim deturpar o real sentido e significado da Igreja, das doutrinas bíblicas e do episcopado.
E isso vai sendo ensinado à congregação que “pastoreia”.

6. O pastor “preguiçoso”
Este pensa que ser pastor é ficar à toa. Não aceita trabalhar secularmente, mas também não deseja trabalhar ministerialmente. Não estuda. Não se prepara. Sequer prepara um sermão. O púlpito é muito mais freqüentado por outros irmãos do que por ele. De vez em quando prega e justifica que está dando oportunidades a futuros pregadores. Não freqüenta a EBD, nunca ministrou em uma sala, porque preparar aula dá muito trabalho. Teologia pra ele é “coisa de fariseu”. Delega o que é pra ser delegado e o que não é. Gosta de muito barulho e de chavões. Tudo pra ele é de improviso e diz que é o Espírito Santo. Não gosta e nem sabe planejar nada. Pensar, discernir, refletir pra ele é muito desgastante. Não respeita horários. É um exemplo de falta de sabedoria. O pastorado pra ele é uma fuga da realidade dura da vida. É o preguiçoso por excelência.

Existem outros maus exemplos, mas penso que esses já são o bastante.
Diante dessa realidade, não podemos culpar a maioria do povo por não entender o ministério pastoral e considerá-la de forma totalmente equivocada e não bíblica e também de muitos generalizarem e rotularem todos os pastores de “oportunistas, picaretas e desocupados”.
Fundamentando-me biblicamente, como então devemos entender e ensinar a questão à luz dessa Palavra de Deus?



O pastor à Luz da Palavra de Deus.

1. É um crente chamado, vocacionado e capacitado por Deus para exercer tal missão. (todos aqueles que exerceram posições de liderança ou pastoreio no relato bíblico foram chamados pessoalmente por Deus)
2. Sua chamada e vocação são marcadas por um desejo interno, profundo e ardente em cuidar, para Deus e sob Sua direção, de um grupo de crentes por um longo período em locais que ele não escolhe. (nota-se isso claramente nos textos escritos por Paulo, Pedro, João e outros escritores neo-testamentários)
3. Sua chamada e vocação são confirmadas pelas pessoas que pastoreia ou que de alguma forma estiveram sob seus cuidados pastorais. (A obediência da Igreja com relação às cartas neo-testamentárias e a confirmação de que se tratava de escritos inspirados por Deus corroboram isso)
4. Sua capacitação se dá através de dons espirituais dados por Deus para bem exercer o ofício e ministério pastoral como, por exemplo: dom de pastor, de profeta, de mestre e outros que formam um “pacote” capacitando este crente para pastorear. (os dons alistados em Efésios 4:11 são uma prova de que se trata de dons ministeriais ou para liderança na Igreja. O contexto do capítulo confirma isso.)
5. O amor a Deus e ao rebanho de Deus são marcas visíveis neste crente. Sem isso seria impossível pastorear. Isso o move ao perdão, paciência e perseverança incomuns à maioria dos cristãos. (O amor dos apóstolos e a o amor dos genuínos pastores pelo rebanho e pela Palavra de Deus no transcorrer da história da Igreja são contundentes para corroborar este ponto)
6. Entende que seu pastorado não é uma profissão, mas sim uma missão determinada a Ele por Deus. Ele não é um empresário, muito menos um empregado da Igreja. É um ministro da Palavra de Deus. Seu trabalho é fundamentalmente espiritual. (A Bíblia em sua integralidade confirma isso)
7. Não possui interesses pessoais acima dos espirituais e ministeriais. Não tem dificuldade em renunciar aos seus prazeres e satisfações pessoais em prol do rebanho do Senhor. (As cartas pastorais ensinam largamente esse princípio bíblico da abnegação voluntária)
8. Não busca ostentação e elogios. Não busca enriquecimento material. Busca vidas salvas e libertas para glória de Deus. (As cartas pastorais ensinam largamente esse conceito bíblico)
9. Dedica e administra todo o seu tempo nas seguintes prioridades: 1. Deus 2. Família 3. Igreja. 4. Amar ao próximo como a si mesmo. (Entende que é mordomo e prestará contas a Deus de tudo que lhe foi confiado, inclusive do tempo. O Senhor Jesus ensinou isso na parábola dos talentos)
10. Dedica-se a pregação, ao estudo e ao ensino bíblico com responsabilidade e temor. (As orientações paulinas a Timóteo enfatizam também essa questão.)
11. É humilde e reconhece suas limitações. Sabe que mesmo sendo pastor, continua sendo servo. (A Bíblia em sua integralidade ensina isso)
12. É pastor de tempo integral. Está ciente que sua vocação e ofício exigem isso. (Observa-se esse princípio claramente nos ministérios de Pedro, Paulo e demais discípulos. (...)Quem prega a Palavra, que viva da Palavra...) 
12. É incansável no cuidado da sã doutrina. Cuida para que os demais irmãos sejam ministrados em todo desígnio de Deus revelado em Sua Palavra. (As cartas pastorais enfocam isso)
13. É sustentado por Deus, através da instrumentalidade da Igreja. Vive nesta dependência alegremente. Se for necessário e temporariamente irá “confeccionar tendas”, mas sabe que isto não é o ideal bíblico para seu ministério. Irá trabalhar para que sua congregação assim entenda o ministério pastoral. (O ministério de Paulo é um bom exemplo disso. Foi obrigado a fazer tendas pela negligência da Igreja com o sustento do apóstolo. É um exemplo do que não é pra ser feito, e não o contrário. O próprio Paulo explica isso em suas cartas)
14. É consciente que somente os que também são vocacionados, como ele o é ao ministério pastoral, conseguem entende-lo completamente. (A Bíblia mostra pelas cartas pastorais que somente um pastor consegue entender outro pastor em todos os aspectos que constituem o ministério pastoral)
15. É consciente que mesmo possuindo dons espirituais não conseguirá pastorear sem a ajuda e direção de Deus. Sabe que quem realiza é Deus.
16. Sabe discernir e alertar o rebanho quando este está em perigo e quando falsos mestres se introduzem nele. (sabe que o Espírito Santo o usa como o atalaia de Deus para a Igreja do Novo Testamento)
17. Tem consciência que muitas vezes se sentirá solitário e cansado. Mas tem a firme convicção que Deus está com ele e Nele tem suas forças revigoradas pra prosseguir. (Não pode negligenciar o dom que há nele dado por Deus. Continua firme fazendo a obra de um evangelista) 
17. Ensina estes itens aos irmãos que pastoreia. (Não tem receio ou medo de “tocar” nesse assunto.)
18. Sabe que desse ensino resultará no bom preparo de outros pastores segundo o coração de Deus.
19. Sabe que nem todos o entenderão. 
20. Sabe que Deus o entenderá e apoiará.

Amigos pastores, ensinemos isso ao povo de Deus. 
Ainda existem muitos pastores fiéis a Deus e dignos de serem chamados de “homens de Deus”.
Mudemos a concepção que muitos têm daqueles que foram chamados por Deus a este santo ministério. Rechacemos os lobos em peles de cordeiros. Honremos Aquele que nos chamou.
A Igreja agradece.

Forte abraço,
Em Cristo,
Pr. Magdiel G Anselmo.

Pastores Bivocacionados. Existe base bíblica que sustente tal conceito?


Desejo aqui tratar deste tema com o objetivo de esclarecimento e aprofundamento, visando a edificação do Corpo de Cristo e sei que para tal missão, posso desagradar alguns. Mas, meu compromisso é com as Escrituras e com o Deus das Escrituras. Espero que o artigo lhe seja útil e lhe sirva de reflexão.
Boa leitura.

Pastores Bivocacionados, uma nova forma de exercer o pastorado ou um equívoco interpretativo?

Para trabalhar esta questão tão discutida atualmente, devemos em primeiro lugar refletir em algumas questões que poderão nos ajudar na descoberta ou exercício da vocação para o ministério sagrado.

1.  A origem da vocação:

O chamado para a vocação é Soberano - Mt 4.18-22; 2Tm 1.3-10. Quem chama é Jesus, Ele é Senhor e cabeça da obra. Chama para uma vocação sagrada, vinda de Deus. O Espírito segundo sua providência, separa e levanta quem lhe apraz para a obra (At 13; Ef 4.11; Rm 12, 1Cor 12). Deus separa pessoas para o exercício do ministério, de acordo com os dons e realizações. Esse chamado não acontece porque Ele previu ou entendeu existir algo bom e útil em nós, mas devido a sua determinação e graça (2Tm 1.1, 9,). Toda glória pertence a Ele, e a convicção desse chamado é motivo para dizermos: “Bendito seja Deus, que não rejeita nossa oração e nem aparta de nós a sua graça” (Sl 66.20). Se a vocação é divina e recebemos o privilégio de ser instrumento de Sua vontade não temos o direito de negociar ou priorizar outras coisas em detrimento do chamado.

2.  A exigência do chamado:

A vocação requer sacrifício. Toda vocação exige um preço na vida, um investimento e uma doação de si mesmo. Em algumas ocasiões vemos que a decisão em seguir Jesus e sua obra, exigiu deixar. Talvez deixar a família e profissão para manter a primazia do Senhor em nossas vidas (Mt 4.18.22). Em muitos casos e circunstâncias se torna evidente que o ministério sagrado nos levará ao sofrimento, segundo a Escritura somos chamados a sofrer pela causa de Cristo (2Tm 2.4).

Além das possíveis perseguições, enfrentamos as demandas, lidar com pessoas duras de coração, ingratas, dúvidas que surgem, falta de dinheiro, etc. Algo muito recorrente no ministério, seja ordenado ou leigo é a injustiça. 
Aconselhando um amigo pastor, que estava desiludido, lembrei-me que o ministério mesmo sendo sagrado é administrado por homens, isso é propósito de Deus, nem uma atitude errônea o desqualifica. O próprio Jesus sofreu com os líderes da Igreja. João relata que um líder chamado Diótrefes não os deixava ir à igreja local. Mesmo assim ele permanece firme como Presbítero e amando a Igreja para servi-la e promover a vontade de Deus (3Jo 1.9). 
O amor a Igreja e o desejo de servir na vocação nos fortalece e mantêm no caminho correto. Que Ministro nunca investiu em determinada ovelha de Cristo aos seus cuidados, orou, aconselhou e se colocou na frente de lobos e em determinado momento, a ovelha por alguma questão qualquer simplesmente virou as costas? Qual Ministro não deu sua vida pela Igreja e não viu resultados objetivos? Isso tudo faz parte do ministério e não pode ser motivo de desânimo ou abandono do chamado e nem mesmo para rebaixar a importância que a vocação sagrada tem nos propósitos de Deus. A Escritura afirma: “E Ele designou alguns para...” Ef 4.11, se é assim “... quem é você, ó homem, para questionar a Deus? Acaso aquilo que é formado pode dizer ao que o formou: ‘Por que me fizeste assim?’ Rm 9.20.

O sustento do chamado ao Ministério Sagrado – 1Cor 9.14
Quem cuida dos vocacionados – “O servo de Deus pede a Deus e informa suas atividades à Igreja”. Sou consciente de alguns grupos que defendem “o fazer tendas”, alguns mais radicais aboliram o ministério integral e até mesmo denominações têm determinado que seus Ministros devem exercer alguma atividade profissional. Por isso é necessário um esclarecimento bíblico e uma defesa coerente, ainda que breve daquilo que vem sendo a tradição ministerial com base nas Escrituras da Igreja de Deus.

3. O Pastorado segundo as Escrituras

Em defesa do Ministério Integral – No texto acima há uma ordem ministerial, essa palavra não é no sentido absoluto do termo, senão Paulo estaria desqualificado, porém o contexto nos esclarece que a questão aqui é a primazia. No contexto de pastoreio local, o Novo Testamento prioriza a permanência do Presbítero (Pastor) para que haja ordem e cuidado do rebanho. Mas ao mesmo tempo demonstra que em alguns casos no campo missionário, se torna necessário o trabalho “secular”, isso trará o sustento para o obreiro no processo de plantação de igreja e não acarretará em peso a mesma.

O Apóstolo como plantador de igrejas e vivendo em contexto transcultural, escreve que em alguns casos ele mesmo precisou fazer tendas. Sou consciente de que alguns irmãos usam o “fazer tendas” como desculpa para dividir seu tempo. A revelação bíblica não permite isso, e mesmo que eu reconheça ser honroso essa atitude, devido as necessidades, como evangélico (seguidor do Evangelho), não posso criar uma doutrina tendo por base a experiência e necessidade. Este é um princípio elementar que se aprende em exegese bíblica. Ou seja, a experiência ou necessidade pessoal jamais podem estar acima das Escrituras e criar um padrão ou doutrina para a Igreja, mesmo que esta necessidade e experiência foram na vida de um apóstolo como Paulo. O que vale sempre é o que as Escrituras ensinam e revelam como norma, doutrina para as questões e não estas excepcionalidades.

A Escritura afirma que “...àqueles que pregam o Evangelho, que vivam do Evangelho”, e que “os Presbíteros (Pastores) que se afadigam na Palavra são dignos de duplos honorários” 1Tm 5.17. O justo viverá pela fé, confiando que o Soberano enviará os recursos para que a vocação não seja envergonhada e Seu Nome deixe de receber a Glória que Lhe é devida. Isso tem a ver com confiança na Providência Divina, no suprimento de Deus prometido ao vocacionado.

A regra da Escritura é a primazia do ministério pastoral, porém é possível entender que em alguns casos no contexto missionário se faz necessário o trabalho secular e assim o exercício do ministério bivocacional. Mas para benefício do ministério e bem da Igreja não há fundamento para que a exceção se torne a regra geral ou se “crie” um novo padrão para candidatos ao ministério pastoral ou para aqueles que desejam exercer outras atividades além e juntamente com o pastorado.

Particularmente reconheço também que o Ministro (pastor) em alguns momentos e circunstâncias, seja obrigado, a dividir seu tempo com outras atividades seculares, mas não vejo fundamento para buscar isso, ser uma orientação da denominação e nem mesmo ser uma atitude permanente. Vemos o caso de igrejas novas, pequenas, onde os irmãos não têm como sustentar o obreiro que ali está ou em casos onde a igreja não foi ensinada biblicamente acerca do sustento pastoral e por isso negligencia este sustento. São situações excepcionais onde o Ministro terá que buscar outro meio para seu sustento, mas, repito, é circunstancial e passageiro, não deve ser regra ou situação permanente. Ainda, existem casos onde o Ministro exerce uma atividade que pode e tem total liberdade para cessa-la no momento em que o rebanho precisa de sua presença ou trabalho. São funções e atividades que quem controla é o Ministro, por exemplo, trabalhar em instituições de ensino teológico onde a administração e gestão conhecem e respeitam o trabalho pastoral exercido por professores e entendem que estes podem necessitar se ausentar para atender ao rebanho que apascentam para Cristo, ou ainda, atividades que trabalhe em casa (profissionais liberais, autônomos, etc.) onde os mesmos administram seus horários, bem diferente de funções, atividades ou trabalhos onde o Ministro terá que cumprir horários e obrigações previamente estabelecidas, que o impeçam de atender quando for solicitado e então, o rebanho tem que esperar uma “folga” ou “tempo disponível” para ser atendido pelo seu pastor. Mas, mesmo estas atividades, reafirmo, são circunstanciais e não devem ser entendidas como permanentes.
A verdade é que o propósito de Deus para os Presbíteros (pastores) é: “vivam do Evangelho”, isso se tornará benefício à igreja e crédito da mesma diante do Senhor. Não é peso, mas benção sobre benção à igreja local.

Qual deve ser nossa atitude diante dessas questões?

1. Ter convicção interna e externa da vocação.

a)  O dom que há em ti - 2Tm 2.6. O exercício da vocação não vai ser genuíno e ativo se não houver uma motivação interior. O sentimento de “para onde iremos nós?” precisa inundar o coração e conduzir a vida do vocacionado, também percebe-se que essa motivação se torna parte da vida do Ministro quando o mesmo se dedica nas disciplinas espirituais, não há desejo pela causa sagrada sem a prática da oração e leitura das Escrituras, por esses meios nos relacionamos com Deus e recebemos o alimento necessário para o exercício da vocação no ministério sagrado. A convicção interna é que o levará ao “aí de mim”!

b)  A imposição de mãos - 2Tm 2.6. A vocação não acontece apenas na experiência mística individual, além de toda manifestação da glória de Deus e o ouvir do Espírito, o texto revela a necessidade de convicção externa. A igreja é o agente da realização da obra de Deus, sendo assim os Ministros e toda a congregação possuem participação ativa no chamado de alguém, por isso o Apóstolo diz: “...pela imposição de minhas mãos”. Ele mesmo vivenciou esse padrão, em Atos recebemos o relato dizendo: “Enquanto adoravam ao Senhor e jejuavam, disse o Espírito Santo: "Separem-me Barnabé e Saulo para a obra a que os tenho chamado". Assim, depois de jejuar e orar, impuseram-lhes as mãos e os enviaram. 13.2-3.

2. Obediência imediata

a) Seguir a vocação é ter atitude radical – Não somos covardes - 2Tm 1.7. Servir ao Senhor é uma atitude espiritual e bem estranha e até loucura para aqueles que não discernem as coisas do Espírito. Talvez alguém que ainda não amadureceu sua fé ou não entendeu a vocação tenha dificuldades, mas aqueles que Deus chamou precisam tomar uma decisão e não fugir para Társis e nem mesmo escolher suas riquezas ou preferir enterrar os pais primeiro.

b) Ouvindo Jesus deixaram no mesmo instante, imediatamente (Mt 4). O chamado dos discípulos revela a importância de todos os pontos acima e nos encoraja a caminhar com o Senhor, com o coração livre, mesmo sendo difícil. Logo após a obediência a glória de Deus e a graça se tornarão suficientes para uma vida em plena comunhão e serviço no reino do Amado. Para os obedientes a contemplação da glória e o viver a glória na edificação e salvação dos perdidos serão a recompensa e a única satisfação.

Considerações Finais

Quando vejo um Ministro (pastor) defender com "unhas e dentes" (e usando a Bíblia equivocadamente), o ministério pastoral parcial ou "o ministério bivocacional ou o pastor bivocacionado" como algo permanente e ainda, aprovado por Deus, fico a pensar que por mais que se faça uma defesa em causa própria, a própria necessidade desta defesa já a torna, no mínimo, questionável.
Quer enganar quem "cara pálida"?
A verdade bíblica, ou seja, o ideal para o pastorado é que ele seja exercido de forma integral. Não adianta “invencionices” ou criação de novas metodologias. A Bíblia já diz tudo acerca disso.
Não adianta, como expus, tentar usar o que ocorreu de forma circunstancial na vida do Apóstolo (Missionário) Paulo (fabricar tendas) e tornar isso como argumento para não se dedicar integralmente ao pastorado. Ora, Paulo fabricou tendas porque foi obrigado pela negligência das igrejas em não o sustentar adequadamente e não porque entendia ser isso o correto. E quando ele renuncia a este direito de sustento é porque aquela igreja não tinha condições de fazê-lo e sustentá-lo dignamente, o que ocorre muitas vezes ainda hoje, com pastores de igrejas novas, pequenas e pobres como mencionei anteriormente.
Não adianta tentar usar o extraordinário como ordinário, ou usar o atípico como sendo típico ou o passageiro e provisório como padrão para o ministério pastoral.
E mais, não adianta tentar comparar o trabalho exercido por um missionário com o trabalho do pastor de igreja local. Uma coisa é muito diferente da outra. Paulo era missionário, Pedro era pastor. Veja, biblicamente, como era o ministério e sustento de cada um deles devido as características de cada ofício e função.
Ora, vamos ser criteriosos e honestos com a interpretação das Escrituras e não atribuir a Ela o que Ela jamais teve a intenção de ensinar.
Seria muito mais honesto afirmar que não acredita na Providência de Deus e precisa se "agarrar" na "segurança" de um trabalho secular juntamente com o pastorado. É mais honesto afirmar que não acredita que Deus o sustentará através da Igreja e que tem medo de não ter suas necessidades atendidas se depender exclusivamente de Deus. É muito mais bonito falar a verdade do que "inventar" justificativas que não se justificam biblicamente.
Sem dúvida, os que defendem este tal ministério bivocacional como permanente e nova forma de Deus chamar e vocacionar irmãos para o pastorado, cometem um grave erro de interpretação que tem como consequência, um grave erro de ordenação e consagração. 
Por fim, devo acrescentar que respeito os pastores que são obrigados pelas razões expostas no artigo a exercer outras atividades juntamente com o pastorado, mas entendem isso como provisório, passageiro e circunstancial e que buscam o ideal bíblico do pastorado integral. Desejo, sinceramente, que Deus os conduza até este objetivo.
Esperando que o artigo desperte maior reflexão bíblica, pesquisa, estudo e muito menos paixão (emoção), encerro aqui minha contribuição acerca do tema, não esgotando-o certamente.
Deus nos abençoe.

Pr. Magdiel G Anselmo.